Os últimos anos têm sido complicados para a economia brasileira. A pandemia causou estragos na economia, muitas pessoas perderam os seus empregos, negócios quebraram e tem sido cada vez mais difícil fazer compras no supermercado.
Não tenho dúvidas que você já deve ter tido a sensação de ir ao supermercado e parecer que o seu dinheiro não consegue comprar mais nada, não é mesmo? O que antes te fazia encher o carrinho, hoje não paga muita coisa.
O momento atual nos faz até lembrar os momentos de hiperinflação, no início da década de 90, momento que quem viveu naquela época certamente lembra sem nenhuma saudade.
Olhando o cenário atual, vemos que a inflação, que parecia ser algo distante para o cidadão brasileiro há alguns anos, voltou a ser motivo de problemas.
Então, surgem naturalmente algumas dúvidas: o que nos levou a chegar até essa situação? Como interpretar o momento atual? Será então que o pesadelo da inflação crescente está perto do fim?
Aproveitando a divulgação da inflação de maio, vamos aproveitar para responder essas e outras perguntas nesta edição da newsletter Conhecimento é dinheiro.
Fique com a gente para saber!
Como a inflação chegou ao cenário atual de alta?
Para explicar isso para vocês, temos que reviver a memória. No caso, uma memória bem recente.
Lembra do início da pandemia?
Naquele momento, o temor de uma doença desconhecida fez o mundo parar.
Com isso, rapidamente todas as famílias se fecharam em casa temendo por sua saúde e pelo bem-estar de todas as pessoas.
Uma das consequências foi o fechamento de diversos estabelecimentos: bares, restaurantes, shoppings centers e muitas atividades comuns do nosso dia a dia tiveram que ser interrompidas por um tempo.
Mais do que opções de lazer, esses tipos de atividades também são responsáveis por empregar várias pessoas.
Portanto, com o faturamento comprometido pela baixa atividade, muitas empresas e funcionários precisaram de auxílio para se manter funcionando e tendo uma fonte de renda.
Foi aí que os Governos tiveram uma atitude: injetar dinheiro na economia para resgatar as empresas e famílias nesse momento de necessidade.
Em um primeiro momento, esse dinheiro foi fundamental para ajudar muitas famílias e negócios a se manterem.
Falando de forma mais técnica agora, em contrapartida, esses auxílios para empresas, colaboradores e famílias acabaram por ter uma consequência econômica, já que o aumento de oferta monetária na economia causa um dos fenômenos bastante conhecido pelas pessoas: a tal da inflação.
Com mais dinheiro circulando, há mais cédulas para serem gastas. Portanto, com muita oferta monetária e pouca oferta de produtos, os preços começam a subir.
Portanto, agora ficou mais fácil de entender como chegamos na situação atual né?
A injeção de liquidez nas economias, que em grande parte foi necessária, acabou gerando essa consequência.
Outros motivos atualmente também ajudam a potencializar o aumento da inflação:
- “Crise dos containers”, que causou a interrupção e atraso na distribuição de mercadorias nos portos, principalmente em virtude dos lockdowns na China;
- Guerra na Ucrânia e sanções à Rússia, que acabaram afetando a oferta de importantes commodities, como o petróleo, gás natural, trigo, entre muitos outros itens;
- Crise dos semicondutores, que são usados nas fabricações de carros, computadores e celulares, e que estiveram em falta recentemente;
- Escassez de mão de obra em países desenvolvidos;
- Aumento rápido do consumo das famílias após os períodos de lockdowns (como falado, muitas pessoas passaram a gastar o dinheiro dos auxílios que estavam guardados durante a pandemia);
- Crise energética e de alimentos, com o aumento dos preços dos combustíveis e nos supermercados.
Esses são somente alguns fatores, mas é possível listar ainda mais.
O ponto é te mostrar que muitos fatores causaram a situação que vemos atualmente.
E ela está afetando o mundo todo…
Portanto, essa inflação é mundial e um desafio para as economias nos próximos anos.
Desmembrando a inflação de maio no Brasil
Agora que você já sabe o que aconteceu para chegarmos ao cenário atual de inflação, vamos desmembrar um pouco o último dado divulgado: a inflação do mês de maio de 2022.
A princípio, pode-se falar que os números foram positivos.
Afinal, a inflação, medida pelo índice IPCA, teve a sua menor variação mensal desde abril de 2021, fechando em 0,47%.
Se levarmos em conta que a projeção dos especialistas era um pouco acima disso, de 0,60% para o período, podemos dizer que os números finalmente deram uma trégua.
O acumulado de 12 meses até abril de 2022 era de 12,13%. Agora, com números menos impactantes, o acumulado do período recuou para 11,73%. No ano, o IPCA acumula 4,78%.
O principal responsável pela queda dos números foi o grupo habitação. Sozinho, ele foi responsável por uma baixa de 0,26% no índice geral. Olhando isoladamente, ele caiu 1,70%.
Dentro do índice, o principal fator foi a conta de luz.
Você com certeza lembra que há alguns meses a conta de luz aumentou bastante por conta da crise hídrica no Brasil, não é mesmo?
A chamada bandeira tarifária da crise hídrica afetou muito o orçamento da família brasileira, já que a conta de luz é um item indispensável.
Agora, porém, a melhora no cenário permitiu que os preços voltassem a um patamar mais controlado.
No entanto, nem tudo são flores. Afinal, dos 9 grupos principais que o índice IPCA leva em conta, os outros oito tiveram alta em maio.
As maiores altas vieram do vestuário, que tiveram alta de 2,11%, e também dos transportes, com alta de 1,34% no período.
O principal vetor para o aumento nos transportes foram as passagens aéreas, que subiram 18,33%, sendo o maior impacto individual do índice no período.
Isso se deve principalmente ao aumento do preço do combustível, o chamado querosene de aviação, que teve um reajuste significativo recentemente.
Observamos, portanto, prós e contras no índice divulgado no último mês.
Como, então, devemos olhar para esses dados e olhar para o futuro?
É sobre isso que vamos falar no próximo tópico.
O que esperar para os próximos meses?
Você com certeza deve estar pensando: não aguento mais esse aumento dos preços! Será que a inflação finalmente vai dar uma trégua?
A verdade é que os especialistas no tema estão divididos.
Alguns acreditam que a inflação já chegou ao seu nível mais alto e deve começar a cair ao longo do ano. Outros já acreditam que esse alto patamar deve prevalecer até dezembro.
Entre os motivos para que a inflação siga alta, os economistas citam três principais: o choque no preço das commodities, nos custos de logística e na produção.
Deixando o economês de lado, esses três pontos são fáceis de entender.
Quando falamos em choque no preço das commodities, estamos falando da alta persistente do preço de produtos como o petróleo, minerais e itens relacionados à agricultura.
Já os custos de logística estão diretamente ligados ao preço dos combustíveis, que vemos a alta na prática no nosso dia a dia. Esse aumento afeta não só os nossos carros de passeio, mas também toda o transporte dos produtos que consumimos no dia a dia.
Além disso, os custos de logística também estão relacionados a outros fatores ao redor do mundo, como a guerra que está acontecendo na Ucrânia e a parada dos portos chineses, devido aos lockdowns que voltaram a acontecer no país asiático — e que provavelmente você deve ter visto ser noticiado nos jornais.
Por último, dá para imaginar que esses dois fatores naturalmente impactam também nos custos de produção, já que as matérias primas estão mais caras de modo geral e têm um custo maior para chegar até as indústrias produtivas.
Já outros especialistas veem de forma diferente. Esses acreditam que a inflação já atingiu o seu ápice e que grande parte dos itens principais medidos pelo IPCA devem ter diminuição a partir de já.
Combinado a isso, algumas medidas do Governo podem ajudar a diminuir a inflação.
Entre elas, por exemplo, está o movimento para a criação de um teto para o ICMS nos combustíveis — outra notícia que provavelmente você já deve ter visto no jornal ou em portais de notícias.
Essa mudança em um dos principais impostos que incidem sobre os combustíveis vai impactar na diminuição dos preços, ou seja, também vai ter efeito sobre a inflação.
Outro exemplo está nos juros, já que o Banco Central vem em um ciclo constante de aperto monetário recentemente. Isso, aos poucos, vai influenciar para a queda na inflação.
Explicando brevemente a taxa Selic
Caso você leitor não conheça esse tema, vamos novamente simplificar o economês.
A taxa básica de juros, que recebe no Brasil o nome de taxa Selic, é o principal instrumento do Banco Central para frear a inflação no país.
Ao aumentar os juros, o Banco Central retira estímulos da economia.
Colocando na prática do seu dia a dia, basicamente fica mais caro pegar dinheiro emprestado.
Ou seja, aquele financiamento que você pega para comprar um apartamento ou aquele empréstimo para algum objetivo financeiro fica com juros mais altos.
Do outro lado, poupar dinheiro fica mais vantajoso: aquele CDB de banco, títulos do Tesouro, entre outros investimentos de Renda Fixa, acabam pagando mais de rendimentos.
A principal consequência disso é uma queda no consumo e aumento da poupança. Com menos busca por produtos e circulação de dinheiro, naturalmente os preços abaixam, freando a inflação.
Os Bancos Centrais ao redor do mundo já vêm adotando essa estratégia de aumentar os juros para frear a inflação. No Brasil, inclusive, esse movimento começou ainda antes, como você pode observar abaixo.
Portanto, o Brasil, em pouco mais de um ano, saiu de um patamar de taxa Selic de 2% para chegar até o valor de 13,25%.
Esse impacto dos juros na inflação, porém, demora um certo tempo para ser sentido, e alguns especialistas estimam que eles serão observados a partir de agora.
Portanto, com isso, poderemos ver uma diminuição dos índices de inflação nos próximos meses.
Consequências do aumento dos juros
Pelo lado positivo, o aumento dos juros ajuda a frear a inflação.
Segundo especialistas, esse ciclo de aumento já deve estar chegando ao fim, com a projeção de um último ajuste até 13,75%. Depois, o Banco Central deve manter ou até sugerir uma queda dos juros. Isso vai depender da resposta da inflação.
Esse aumento dos juros, porém, tem um custo.
Esse custo é o crescimento econômico baixo.
Apesar de frear os preços dos produtos, o aumento dos juros acaba freando também os estímulos para o crescimento econômico.
Isso acontece porque, com o crédito mais caro, as empresas têm menos estímulos para investir em crescimento.
Portanto, acabam segurando o dinheiro em caixa para evitar alguma crise e não investem nem na criação de novas linhas de negócios e nem na contratação de novos funcionários.
Com isso, apesar da probabilidade de estabilização na inflação até o final do ano, podemos enfrentar um período de preços ainda um pouco elevados junto de um baixo crescimento econômico.
Somado a esses dois fatores, entra também um grande dilema:
Os Governos vão frear os incentivos para poder evitar um aumento ainda maior da dívida pública ou vão seguir disponibilizando estímulos e comprometer a saúde financeira do país no futuro?
Qualquer uma das escolhas terá consequências e, em meio a eleições no Brasil, esse cenário fica ainda mais nebuloso.
Afinal, períodos eleitorais carregam instabilidades, já que as diferentes falas e promessas dos candidatos podem assustar os investidores, afetando a confiança no país.
Levando em conta uma visão mais otimista, parte das previsões acredita que os próximos meses podem trazer uma realidade mais parecida com o pré-pandemia.
Dessa forma, as tensões que impactaram o mundo começarão a diminuir e a economia mundial pode voltar a tomar o seu rumo.
De uma forma ou de outra, os próximos meses serão desafiadores não só para o Brasil, mas para as economias do mundo todo.
A inflação deve sim retomar um cenário de controle. A grande questão é entender a qual custo esse movimento se dará.