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Por que a gasolina está tão cara? Saiba como guerra na Ucrânia impacta a economia

por que a gasolina está tao cara
Preço dos combustíveis teve grande alta no Brasil e no mundo (Foto: Pixabay)

A economia brasileira vive um momento difícil. Juros altos, inflação crescendo e preocupação sobre o que o futuro reserva. Um dos ápices da insatisfação da população veio recentemente, com o aumento significativo do preço da gasolina e de outros combustíveis anunciados pela Petrobras

Vendo todo esse movimento e a preocupação dos brasileiros, resolvemos dissecar um dos fatores que mais influencia atualmente na inflação global e aumento do preço de itens como a gasolina: a guerra entre Rússia e Ucrânia.  

Neste artigo, você vai entender como uma guerra bem distante do território brasileiro pode afetar diretamente não só a nossa economia, mas a do mundo inteiro.  

Dissecaremos as principais atividades econômicas de Rússia e Ucrânia, a relação comercial que esses países têm com o Brasil, o impacto das sanções das grandes potências aos russos e também a explicação de como esse conflito gera uma reação em cadeia que afeta a economia global.  

Siga com a gente e fique por dentro do assunto! 

Principais atividades econômicas de Rússia e Ucrânia  

Antes de tudo, é importante começarmos mostrando as principais atividades econômicas dos dois países envolvidos na guerra: Rússia e Ucrânia.   

As duas nações possuem tamanhos diferentes no volume de exportações. Segundo dados de 2019, a Rússia exportou 407 bilhões de dólares em produtos no ano, sendo o 13º país do mundo nessa atividade. Já a Ucrânia teve um total de 49,5 bilhões e foi a 51ª colocada em todo mundo.  

Apesar da diferença do tamanho das economias, ambos os países possuem produtos exportados que podem afetar o comércio mundial em caso de escassez. Confira alguns deles a seguir. 

O trigo é um dos produtos mais exportados na Rússia e na Ucrânia (Foto: Unsplash)

Commodities agrícolas (trigo, milho, entre outros) 

Um dos produtos que Rússia e Ucrânia possuem uma grande produção é o trigo. Ambos os países são grandes exportadores dessa commoditie. Estima-se que um terço das exportações mundiais venham dessas duas nações.  

Para ser mais exato, a Rússia é o país que mais exporta trigo no mundo. Enquanto isso, os ucranianos ocupam a quinta posição global. 

Só para exemplificar, estima-se que 19% da produção mundial de cevada, 14% do trigo e 4% do milho venha desses dois países. Portanto, a influência na cadeia produtiva afeta e muito a distribuição global.  

A importância da Rússia no setor agrícola, no entanto, não para por aí. Os russos também são o principal exportador de fertilizantes em todo o mundo.  

Por isso, a guerra afeta não só a distribuição de alimentos para o mundo. O conflito impacta também a produção agrícola dos países.  

Commodities minerais (gás natural, petróleo, ouro, minério de ferro etc.) 

Saindo do universo das commodities agrícolas e partindo para as minerais, vemos que a Rússia também possui grande relevância mundial.  

Os russos ocupam a 3ª posição em produção de petróleo em todo o mundo, atrás somente de Estados Unidos e Arábia Saudita. Eles são responsáveis por 10% do total produzido no planeta.  

Além disso, a Rússia produz 17% de todo o gás natural do mundo. O fator crucial desse tema e que tem gerado preocupação em toda a Europa é que muitos países do continente são totalmente dependentes do gás russo.  

Afinal, 50% de todo o gás usado na Europa vem da Rússia.  

Isso pode ser observado no gráfico abaixo, que mostra a dependência do gás russo em cada país europeu.

dependência do gás russo na Europa
10 países europeus importam dos russos mais de 50% de seu gás natural (Fonte: Statista)

Portanto, isso pode ser crucial nas negociações de sanções aos russos. Isso porque alguns países podem ficar de mãos atadas temendo a diminuição do fornecimento de gás.  

Vale ressaltar ainda que a Rússia é a maior produtora mundial de níquel, um minério usado na fabricação de moedas, baterias de celular, bijuterias e ligas de aço para naves espaciais.  

Além disso, é também responsável por 37% da produção mundial de paládio. Esse mineral é usado na fabricação de catalisadores colocados nos sistemas de escapamento de veículos a gasolina.  

Com as sanções à Rússia e o impacto da guerra nas exportações e importações, os dois países ficam restringidos em suas relações comerciais. Desse modo, toda a cadeia global de comercialização é afetada. O primeiro resultado é o aumento dos preços delas.

Relações comerciais de Rússia e Ucrânia com o Brasil 

Falamos de forma mais geral da economia russa e ucraniana. Agora vamos relacionar e aprofundar a relação comercial desses dois países com o Brasil.  

A “boa notícia” é que, na relação direta, o Brasil não depende tanto desses países. 

Relações comerciais com a Ucrânia

Se olharmos novamente os dados do site do OEC, vemos que, em 2019, o Brasil exportou um total de 111 milhões de dólares em itens para a Ucrânia e importou 102 milhões de dólares do país europeu.  

Entre os maiores bens de consumo exportados estão tabaco, chá e café. Enquanto isso, entre as importações, se destacam principalmente os medicamentos.  

Levando em conta um total de 230 bilhões exportados pelo Brasil no ano de análise e os 177 bilhões importados, essa relação comercial com a Ucrânia tem um impacto mínimo e quase nulo para a economia brasileira.

Relações comerciais com a Rússia

Já em relação a Rússia, o volume é um pouco maior. Mesmo assim, os russos estão longe de ser um grande parceiro comercial do Brasil.  

Ao olhar números mais recentes, observamos que o Brasil exportou para a Rússia cerca de 1,5 bilhões de dólares em 2021. Já as importações são um pouco mais significativas: cerca de 5,7 bilhões.   

Evolução das exportações e importações da Rússia (Foto: CNN)

Apesar do número não tão grande comparado ao total do Brasil, há um grande empecilho dentro desse montante de importação. O problema é que o nosso país importa um insumo muito relevante dos russos: fertilizantes agrícolas. 

Cerca de 63% do que o Brasil importa da Rússia são fertilizantes. Entre eles, o mais importante é o potássio. Esse insumo corresponde a cerca de 90% do total que os agricultores brasileiros usam na produção.  

Portanto, o Brasil é extremamente dependente. 

Por isso, desde o começo da guerra, o Governo mostrou extrema preocupação com os fertilizantes. Como a agricultura é um importante vetor de nossa economia, qualquer problema na produção impacta demais no crescimento do país. 

Por isso, o assunto gerou atitudes das autoridades. Recentemente, foi assinado o decreto do Plano Nacional de Fertilizantes, que visa reduzir a dependência brasileira ao mercado internacional. 

Por fim, vale ressaltar que destacamos apenas os impactos diretos. Em uma economia globalizada, um país pode sofrer consequências de problemas econômicos de outras nações, mesmo que não se trate de um forte parceiro comercial. 

Foi isso o que aconteceu com os preços da gasolina, que abordaremos mais a frente. Primeiramente, vamos mostrar algumas das sanções econômicas à Rússia que motivaram esse cenário.

Sanções econômicas à Rússia e impactos  

Como o foco do nosso artigo é nos impactos na economia brasileira, falaremos brevemente das sanções.  

O fato é que diversos países do mundo desaprovaram a invasão russa à Ucrânia, como todos já vimos nos últimos dias. Entre eles, estão grandes potências mundiais, como é o caso dos países membros da OTAN.  

Países que votaram a favor (verde), contra (vermelho) ou se abstiveram (amarelo) na resolução da ONU que condena a invasão da Ucrânia (Fonte: Reprodução/ONU)

A Organização dos Tratados do Atlântico Norte (OTAN), aliança militar intergovernamental, conta com países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, entre outros. 

Se levarmos em conta outras regiões do mundo, diversos países importantes também repudiaram e prometeram sanções aos russos, como é o caso de Japão, Coreia do Sul e Austrália. 

Uma maneira que essas nações encontraram para retaliar os ataques da Rússia, sem provocar um combate propriamente dito, foi com a imposição de sanções econômicas.  

Como resultado, os russos tiveram diversos impactos em sua economia: grandes empresas mundiais deixaram a Rússia, o país foi retirado do SWIFT (sistema internacional de informações financeiras e transferências de dinheiro entre bancos ao redor do mundo), bilionários russos tiveram bens confiscados, entre outras medidas duríssimas. 

Entre todas as ações, está também o fato de os Estados Unidos e o Reino Unido terem anunciado que não vão mais importar o petróleo russo.  

Essas atitudes geram consequências econômicas que afetam o Brasil e a economia mundial. Essa última, inclusive, está diretamente ligada com o aumento dos preços dos combustíveis, como a gasolina. Debateremos o tema com mais profundidade no tópico a seguir. 

Reação em cadeia na economia global: aumento da gasolina, alimentos e outros insumos 

Neste último ponto do artigo, entraremos em conceitos mais econômicos. Para entendermos melhor, vamos fazer uma recapitulação.  

Consequências econômicas da guerra 

A guerra afeta as exportações de milho e trigo vindos da Ucrânia e da Rússia. 

Além disso, os ruídos nas relações diplomáticas dos russos com Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia afeta também o mercado de petróleo, gás natural e minérios.  

Temos ainda outros incontáveis exemplos. 

A consequência desse cenário é um esfriamento das relações econômicas entre todos os países do mundo.  

Vivemos em um mundo que está cada vez mais globalizado e interligado. A Economia dos países não foge dessa globalização. Portanto, qualquer ruído que façam as nações cortarem relações de trocas geram consequências que impactarão no cenário econômico. 

Portanto, quebra de relações comerciais geram consequências como aumento de preços, escassez de insumos, esfriamento dos investimentos no mercado, entre outros diversos fatores.  

Um dos pontos mais importantes afetados se trata de uma das leis mais básicas da economia: o conceito de oferta e demanda. 

Com as proibições à Rússia e as relações comerciais diminuindo, a oferta de alguns desses produtos básicos para a economia também diminui. Portanto, a guerra faz com que haja menos petróleo, trigo, milho, minérios, gás natural e outros produtos disponíveis no mercado. 

Enquanto a oferta diminui, em contrapartida a demanda dos países por esses produtos se mantém a mesma. Todas as nações seguem precisando desses itens. Portanto, a consequência natural é a subida do preço de todos esses exemplos.

Exemplos práticos 

O mundo já passava por impactos significativos na Economia em virtude da pandemia do coronavírus. Com a diminuição dos casos e o controle da doença com a vacinação em massa, porém, via-se um cenário de melhora, mas ainda com grandes desafios no curto e médio prazo.  

O início da guerra, porém, influenciou para atrasar ainda mais o processo de recuperação. Diversos dos itens citados tiveram um aumento generalizado e incontrolável em seus preços.  

O petróleo está em suas cotações máximas, o trigo bateu recordes, o níquel chegou até a deixar de ser negociado na Inglaterra devido a uma alta muito grande em um curto período de tempo.  

evolução do preço do barril de petróleo e influência na gasolina
Evolução da cotação do petróleo brent, que em menos de 1 ano foi da casa dos 60 dólares o barril até quase 130 no auge do temor da guerra (Foto: Trading view) 

Por serem itens básicos, esse aumento é ainda mais sentido. Isso porque muitos produtos são derivados dessas matérias-primas. Como é o caso da gasolina, item central do nosso artigo, que teve uma alta considerável não só aqui no Brasil, mas em todo o mundo.  

Consequências no preço dos produtos (gasolina, diesel, alimentos) 

Portanto, todos as matérias-primas que estão relacionadas com o conflito devem ter os seus preços subindo e se mantendo mais altos no futuro próximo. Desse modo, os derivados também deverão subir, como repasse dos custos de produção.  

Será o caso dos derivados do trigo, como pães e biscoitos, e dos produtos feitos à base de cereais, como é o caso da cerveja. 

Além disso, o custo dos demais produtos deve subir. Isso porque todos os insumos têm que ser transportados. Ou seja, é necessário combustíveis como gasolina e diesel.  

Com o aumento nos preços dos combustíveis, os custos do transporte aumentam. A consequência é que esse valor será repassado ao consumidor final nos produtos das prateleiras. 

Infelizmente, teremos um cenário de inflação global que pode se intensificar ainda mais de acordo com a duração dos conflitos e possíveis escaladas inesperadas na guerra.  

Portanto, é importante estar preparado. Aproveite para estudar o momento e tomar as melhores decisões de investimentos para sofrer o mínimo de impactos com o aumento dos preços da gasolina, alimentos e outros produtos.  

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Hugo Gonçalveshttps://finclass.com/
Hugo é economista e copywriter no Grupo PRIMO. Trabalha com finanças há mais de 7 anos.
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