Imagine que você decidiu investir em ações e encontrou duas opções da mesma empresa: uma com final 3 e outra com final 4. Ambas são emitidas pela mesma instituição, mas… qual delas escolher? O número muda alguma coisa? Existe uma mais vantajosa que a outra?
Se você já passou por essa dúvida, saiba que ela é bem mais comum do que pensa. Muitos investidores, principalmente iniciantes, ainda têm dificuldade em entender as diferenças entre ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) — e mais: quais os impactos reais dessa escolha no bolso e na sua estratégia de longo prazo.
Segundo a B3, milhares de pessoas físicas acessam a Bolsa todos os meses, o que mostra o crescimento do interesse por investimentos. Porém, esse movimento precisa vir acompanhado de educação financeira, para que essas pessoas saibam exatamente o que estão comprando e por que estão comprando.
E a boa notícia é que isso é mais simples do que parece.
Ao longo deste artigo, você vai entender:
- O que é uma ação ordinária (ON);
- O que é uma ação preferencial (PN);
- Quais são as diferenças entre ações ordinárias e preferenciais;
- Quais ações rendem mais: ordinárias ou preferenciais;
- Qual é a melhor ação para comprar ordinária ou preferencial;
- Qual a diferença entre ações e units.
No final, ainda deixaremos uma dica de ouro para você aprofundar seu conhecimento e investir cada vez melhor. Tudo pronto para continuar? Então, siga a leitura!
Ações ordinárias e preferenciais: entenda de uma vez por todas (Foto: Unsplash)
O que é uma ação ordinária (ON)?
As ações ordinárias, também chamadas de ações ON, são aquelas que dão a quem investe o direito de voto nas assembleias da empresa. Isso significa que, ao comprar esse tipo de papel, você passa a ter voz — ainda que pequena — nas decisões estratégicas da companhia.
Um ponto de atenção é que nem todas as ações ordinárias possuem alta liquidez. Isso significa que, em alguns casos, pode ser difícil encontrar compradores para vender esses papéis rapidamente, especialmente se você tiver uma posição grande. Por isso, é importante avaliar o volume negociado antes de investir — e não apenas se a ação é ON ou PN.
Na Bolsa de Valores, as ações ordinárias são identificadas pelo final “3” em seu código de negociação, o chamado ticker.
Para pequenos investidores, o poder de voto pode parecer irrelevante — afinal, quem tem poucas ações dificilmente influencia decisões importantes. Mesmo assim, há quem prefira ações ordinárias pelo simples fato de estar “do mesmo lado dos sócios”. A lógica aqui é que os controladores, que geralmente detêm ações ordinárias, contam com incentivos para proteger o próprio patrimônio — e, consequentemente, o de todos os demais acionistas com o mesmo tipo de papel.
Outro ponto importante é a proteção oferecida pelo tag along, um direito exclusivo ou mais robusto nas ações ON.
O que é tag along?
Tag along é um mecanismo que protege os acionistas minoritários em caso de venda da empresa. Se o controle da companhia mudar de mãos, o novo comprador é obrigado a fazer uma oferta também aos demais acionistas. Nas ações ordinárias, esse valor deve ser de no mínimo 80% do preço pago por ação aos controladores — e, em alguns casos, pode chegar a 100%.
Esse direito ajuda a proteger o capital de quem investe em caso de mudanças na gestão ou estrutura societária da empresa.
Exemplos de ações ordinárias
Ações ordinárias iniciam com o código 3, e alguns exemplos incluem:
- VALE3 (Vale);
- WEGE3 (Weg);
- PETR3 (Petrobras);
- LREN3 (Lojas Renner);
- ITUB3 (Itaú Unibanco).
Atenção: essa lista apenas traz alguns códigos para fins ilustrativos, para que você consiga visualizar com o que o ticker se parece na hora de investir no home broker da sua corretora. Não se tratam, portanto, de recomendações de investimento.
O que é uma ação preferencial (PN)?
As ações preferenciais, conhecidas como ações PN, são um tipo de papel negociado na Bolsa de Valores que concede a quem investe a prioridade no recebimento de proventos, como dividendos e juros sobre capital próprio (JCP). Ou seja, antes de distribuir lucros aos acionistas ordinários, a empresa deve pagar os investidores com ações preferenciais.
Na prática, isso significa que o/a acionista PN não tem direito a voto nas assembleias, mas tem prioridade na distribuição de lucros — o que pode ser muito interessante para quem busca renda passiva recorrente.
Além da prioridade no recebimento de proventos, muitos papéis PN apresentam maior liquidez do que suas versões ON. Isso significa que são mais negociadas no dia a dia do mercado, facilitando a compra e venda desses ativos.
Por exemplo, a ação SAPR4 costuma ter um volume de negociação aproximadamente 10 vezes maior do que a SAPR3 (ordinária). Isso pode ser um diferencial importante para investidores que desejam maior flexibilidade para movimentar a carteira.
A ação SAPR4 possui aproximadamente 10 vezes mais negociações diárias que a SAPR3.
Além disso, algumas ações preferenciais também contam com tag along, embora esse direito não seja obrigatório por lei para as PNs. A presença ou não desse benefício varia conforme o estatuto da empresa.
Exemplos de ações preferenciais
Essas ações geralmente possuem um ticker com o número 4 no final. Veja só:
- PETR4 (Petrobras);
- ITSA4 (Itaúsa);
- SAPR4 (Sanepar);
- BRAP4 (Bradespar).
Não se esqueça: os exemplos citados servem apenas para que você visualize com o que o código das ações preferenciais se parecem. Os ativos citados, portanto, não são recomendações de investimento.
Quais são as diferenças entre ações ordinárias e preferenciais?
Se você está em dúvida entre investir em ações ordinárias ou preferenciais, saiba que essa é uma dúvida comum entre iniciantes na Bolsa — e até entre investidores mais experientes. Por isso, analisar essa tabela comparativa entre ON e PN pode te ajudar:
Característica | Ações Ordinárias (ON) | Ações Preferenciais (PN) |
Direito a voto | Têm direito a voto nas assembleias. | Geralmente não têm direito a voto. |
Prioridade nos dividendos | Recebem dividendos depois das preferenciais. | Têm prioridade no recebimento de proventos (dividendos e JCP), podendo receber mais. |
Tag along | Garantia legal de 100% em caso de venda do controle da empresa. | Não têm garantia legal; pode existir se previsto no estatuto da empresa. |
Liquidez no mercado | Podem ter menor volume de negociação, dificultando a venda. | Geralmente têm maior liquidez, especialmente em empresas focadas em dividendos. |
Participação na gestão | Possibilitam participação nas decisões e gestão da empresa. | Não permitem participação na gestão ou decisões estratégicas. |
Quais as diferenças entre ações preferenciais classe A e classe B?
Em certas companhias, você pode se deparar com ações preferenciais com finais 5 ou 6 no ticker — e não o tradicional 4. Essas são chamadas de:
- Classe A → final 5 (ex.: USIM5, BRKM5, CPLE5);
- Classe B → final 6 (ex.: USIM6, BRKM6, CPLE6).
As diferenças entre as classes A e B não seguem uma regra única para todas as empresas. Cada companhia define os direitos e vantagens de cada classe no seu estatuto social, geralmente disponível no site de Relações com Investidores (RI) da empresa.
Veja dois exemplos práticos com ações da Usiminas:
- USIM5 (Classe A): garante dividendos 10% maiores do que os pagos aos acionistas ordinários;
- USIM6 (Classe B): tem prioridade na distribuição de direitos em caso de liquidação da empresa.
Essas particularidades tornam importante que você consulte o estatuto da empresa antes de investir em ações preferenciais de classes diferenciadas.
O que é o Novo Mercado?
O Novo Mercado é o nível mais elevado de governança corporativa da B3, a Bolsa de Valores brasileira. Para estar nesse segmento, as empresas precisam seguir uma série de exigências que aumentam a transparência, a proteção dos acionistas minoritários e a qualidade da gestão.
Se você já notou que algumas empresas listadas na Bolsa só possuem ações ordinárias (com final 3), isso tem uma explicação: elas fazem parte desse ambiente chamado Novo Mercado.
Entre essas exigências, está a obrigatoriedade de emitir somente ações ordinárias (ON). Ou seja, não existem ações preferenciais (PN) nas companhias do Novo Mercado. Além disso, as empresas do Novo Mercado são obrigadas a divulgar mais informações, com mais frequência e mais clareza. Ainda, há exigências sobre composição do conselho, auditorias independentes e outros mecanismos que reduzem os riscos de governança.
Quais ações rendem mais: ordinárias ou preferenciais?
A resposta é: depende da estratégia da empresa, do comportamento do mercado e, principalmente, dos seus objetivos de investimento. Vamos entender os dois lados da moeda:
As ações ordinárias são mais sensíveis à expectativa do mercado em relação ao crescimento da empresa. Isso acontece porque elas representam, de fato, a posição de sócio com direito a voto e maior proteção jurídica com o tag along. Quando o mercado enxerga que uma empresa tem grande potencial de crescimento ou está prestes a realizar uma mudança de controle relevante, as ONs tendem a se valorizar mais do que as preferenciais.
Exemplo: em uma eventual venda de controle, os acionistas de ações ordinárias têm direito a receber 100% do valor pago pelo novo controlador, o que pode impulsionar o preço desses papéis.
Ou seja: ações ordinárias podem gerar lucros mais expressivos no longo prazo por meio da valorização do capital investido.
Por outro lado, as ações preferenciais geralmente são mais atrativas para quem busca renda recorrente e previsível.
Elas têm prioridade no recebimento de dividendos, e em alguns casos oferecem percentuais maiores do que as ONs. Isso as torna preferidas entre os investidores que querem gerar fluxo de caixa com seus investimentos, como aposentados, investidores defensivos ou holders com foco em renda passiva.
Além disso, muitas ações preferenciais possuem maior liquidez, o que também favorece quem deseja entrar ou sair da posição com mais facilidade.
E, no fim das contas, qual rende mais? Não existe uma regra fixa. Em momentos de crescimento da empresa ou de eventos societários, as ações ordinárias podem se destacar pela valorização. Já em ambientes de maior estabilidade ou quando o objetivo for renda passiva, as preferenciais costumam ser mais vantajosas.
Em muitos casos, a diferença de desempenho entre ON e PN é pequena. Porém, em eventos extraordinários, como uma venda de controle, ela pode ser significativa.
Qual é a melhor ação para comprar: ordinária ou preferencial?
A resposta para essa pergunta depende do seu perfil de investimentos, dos seus objetivos e até da empresa em questão. Tanto as ações ordinárias quanto as preferenciais têm pontos fortes e fracos, que precisam ser avaliados com cuidado antes da compra.
A seguir, vamos detalhar os prós e contras de cada uma delas:
Vantagens das ações ordinárias (ações ON)
Algumas vantagens desses ativos são:
- Direito a voto nas assembleias: mesmo que investidores minoritários tenham pouca influência nas decisões, eles participam do processo decisório da empresa;
- Alinhamento com os controladores: ao comprar ações ordinárias, você tem os mesmos papéis dos sócios majoritários. Isso costuma dar mais confiança a quem investe, pois dificilmente os donos da empresa tomarão decisões que os prejudiquem;
- Tag along garantido por lei: ações ordinárias oferecem, no mínimo, 80% do valor pago ao controlador em caso de troca de controle — e muitas empresas oferecem 100%. Isso protege você em uma possível venda da empresa.
Riscos das ações ordinárias
Antes de investir em ações do tipo, considere esses riscos também:
- Menor liquidez em algumas empresas: em várias companhias, o volume de negociação das ações ON é mais baixo do que o das PNs, o que pode dificultar a venda em momentos de necessidade;
- Menor previsibilidade de dividendos: as ONs não oferecem preferência no pagamento de dividendos, o que pode ser um ponto negativo para quem busca uma renda mais estável;
- Volatilidade maior em alguns casos: como o preço das ações ordinárias pode ser influenciado pelas expectativas de controle e decisão, pode haver mais variações de preço em certos períodos.
Vantagens das ações preferenciais (ações PN)
Quanto aos pontos positivos das ações preferenciais, temos:
- Preferência no recebimento de dividendos: como o próprio nome indica, essas ações oferecem prioridade na distribuição de lucros — em alguns casos, até com um percentual fixo garantido;
- Maior liquidez em muitas empresas: as ações preferenciais costumam ser as mais negociadas no mercado, o que facilita a entrada e saída de posição com rapidez e eficiência;
- Menor exposição a conflitos de governança: por não estarem diretamente envolvidas nas decisões, acionistas preferenciais podem acabar sendo menos impactados por conflitos entre os sócios controladores.
Riscos das ações preferenciais
Em relação aos riscos das ações PN, considere os seguintes:
- Sem direito a voto: investidores de ações PN não participam das decisões estratégicas da empresa. Isso pode ser uma desvantagem caso haja mudanças relevantes na gestão ou na estratégia;
- Tag along não obrigatório: diferentemente das ações ON, as PNs não têm obrigatoriedade legal de oferecer tag along. Isso significa que, em uma venda da empresa, o/a acionista pode não ter o mesmo nível de proteção;
- Possível subvalorização: em alguns casos, o mercado pode precificar as ações preferenciais com desconto em relação às ordinárias, o que afeta o potencial de valorização de capital.
Qual a diferença entre ações e units?
A principal diferença entre ações e units está na composição: enquanto ações são títulos individuais (ordinárias ou preferenciais), as units são pacotes que reúnem uma combinação desses tipos de ações. Por exemplo, uma unit pode incluir uma ação ordinária e duas preferenciais, negociadas juntas como um único ativo na bolsa. Isso permite ao investidor acessar diferentes direitos — como voto e prioridade em dividendos — em uma única negociação.
Quando se fala em ações na Bolsa, muitos investidores iniciantes se deparam com tickers diferentes, como “SULA11” ou “ALUP11”, e ficam em dúvida: isso é uma ação ou outro tipo de ativo? A resposta é: são units — uma estrutura especial do mercado de capitais brasileiro.
Entrando em mais detalhes, as units são um tipo de ativo composto por um pacote de ações, geralmente uma combinação de ações ordinárias (ON) e ações preferenciais (PN). Ao invés de comprar uma ação ON ou PN isoladamente, você adquire um conjunto delas em uma única negociação.
Veja um exemplo comum de composição de uma unit: 1 ação ordinária + 2 ações preferenciais (isso pode variar de empresa para empresa).
Essa estrutura tem dois principais objetivos:
- Aumentar a liquidez dos papéis: ao unir diferentes tipos de ações em um único ticker, a empresa pode tornar seu ativo mais atrativo e negociado;
- Evitar concentração de controle: como as units normalmente possuem mais ações preferenciais do que ordinárias, isso dificulta a aquisição de uma fatia relevante com direito a voto por parte de uma única pessoa investidora.
Outro ponto importante: o preço das units costuma refletir a soma (ou valor proporcional) das ações que a compõem.
As units são identificadas por tickers com final 11 — o que pode gerar confusão com Fundos Imobiliários (FIIs) e ETFs, que também terminam em “11”, mas são ativos completamente diferentes.
E os BDRs?
Além das ações tradicionais e das units, também existem os BDRs (Brazilian Depositary Receipts), certificados que representam ações de empresas estrangeiras, permitindo que brasileiros invistam nelas diretamente pela B3, sem precisar abrir conta no exterior.
Esses papéis funcionam como “espelhos” das ações listadas lá fora, sendo negociados em reais e seguindo a regulamentação do mercado brasileiro.
- BDRs patrocinados: são listados no Brasil pela própria empresa estrangeira, que tem interesse em acessar o mercado brasileiro de investidores. Finais de ticker: 31, 32 ou 33;
- BDRs não patrocinados: são listados por instituições financeiras brasileiras, que identificam empresas globais relevantes e oferecem seus papéis por aqui. Finais de ticker: 34 ou 35.
Investir em BDRs é uma forma prática de diversificar sua carteira com empresas globais como Apple, Google, Amazon, Meta, Netflix, entre outras — tudo isso com simplicidade e na mesma corretora que você usa para comprar ações brasileiras.
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Entender a diferença entre ações ordinárias e preferenciais é necessário para tomar decisões mais estratégicas e conscientes ao investir na Bolsa de Valores. Afinal, cada tipo de papel possui suas particularidades — seja no direito a voto, na preferência por dividendos, na liquidez ou mesmo na proteção ao acionista minoritário.
Mas a verdade é que não existe uma resposta única para a pergunta: qual é a melhor ação para investir? Tudo vai depender do seu perfil, dos seus objetivos e do momento de mercado. Por isso, mais importante do que escolher entre ações ON, PN, units ou BDRs, é estudar continuamente e investir com embasamento.
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