Se aventurar nos ADRs (American Depositary Receipts) é adentrar um domínio no qual você pode extrapolar fronteiras geográficas financeiras e aproveitar oportunidades em bolsas e moedas mais fortes que as brasileiras.
Estes títulos, embora não sejam ações convencionais, operam como pontes entre os investidores dos Estados Unidos e as empresas estrangeiras, fornecendo um meio hábil de investimento e captação de recursos.
Resumidamente, essa modalidade de aplicação permite que uma pessoa acesse, por meio das bolsas norte-americanas, títulos de empresas de vários locais do mundo, sem necessariamente precisar abrir conta em corretoras de cada uma dessas nações.
Se interessou? Então, antes de prosseguir, confira tudo o que você vai ter aprendido até o final desta leitura:
- O que são ADRs;
- Como eles funcionam;
- Como são classificados;
- Quais são os tipos de ADRs;
- Quais as vantagens e os riscos desse tipo de investimento;
- Passo a passo de como investir em ADRs.
O que são ADRs?
Sigla para “American Depositary Receipt” — “Recibo de Depósitos Americano”, em tradução literal — os ADRs são títulos representativos de empresas estrangeiras negociados em dólar nas bolsas de valores e no mercado de balcão dos Estados Unidos. Não são, portanto, ações propriamente ditas, mas certificados lastreados em papéis que são mantidos sob custódia em seu país de origem.
Marco do desenvolvimento do mercado global de capitais, o primeiro ADR — emitido pela Jardine Matheson Holdings, uma empresa de Hong Kong, e listado na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE) — foi desenvolvido há quase 100 anos como uma maneira de facilitar o acesso de investidores norte-americanos à companhias listadas em bolsas de valores ao redor do globo.
Via de mão dupla, os ADRs estabeleceram uma relação de ganhos mútuos entre os investidores estadunidenses e as empresas estrangeiras. Por um lado, permitiu que os investidores residentes dos EUA pudessem aplicar em companhias internacionais sem a necessidade de abrir contas em diferentes corretoras em cada um dos países de origem dessas empresas. Por outro, conferiu a essas mesmas companhias a possibilidade de arrecadar recursos no maior e mais líquido mercado financeiro do mundo: o norte-americano.
Essa foi, por exemplo, uma estratégia amplamente adotada por empresas brasileiras que, na década de 1990, quando o mercado de capitais nacional ainda não era tão estruturado, começaram a buscar investidores internacionais por meio da listagem de ADRs, sobretudo, na NYSE. Hoje, mais de 3.000 empresas internacionais, incluindo as brasileiras, possuem ADRs em negociação nas principais bolsas dos Estados Unidos.
Como funcionam os ADRs?
Os ADRs funcionam como certificados lastreados em títulos estrangeiros, listados no mercado acionário norte-americano. A grosso modo, é possível dizer que os American Depositary Receipts “convertem” ações listadas em bolsas de valores de outros países em ativos passíveis de serem negociados nos EUA.
Para tornar esse processo mais compreensível, vamos dividi-lo em um passo a passo detalhado:
1. A primeira etapa passa pela compra de ações de uma empresa estrangeira por uma instituição financeira originária do mesmo país dessa companhia;
2. As ações adquiridas são então guardadas e bloqueadas pela instituição financeira em questão, que passa a atuar como custodiante desses títulos;
3. Em seguida, entra em campo uma nova personagem: a depositária, uma instituição financeira dos EUA, que adquire essas ações da custodiante — que permanece responsável pelo armazenamento desses papéis;
4. Após agrupar esses certificados em lotes, a depositária emite os recibos de ADRs e os distribui nas bolsas de valores dos Estados Unidos, como a NYSE e a Nasdaq, para negociação.
Uma vez listados no mercado acionário norte-americano, os ADRs podem ser comprados por investidores interessados como se fossem ações. Cada certificado recebe um código de negociação, pelo qual passa a ser operado livremente no pregão. A negociação é feita em dólar e o preço segue a cotação do país de origem da empresa.
Apesar de representarem um investimento indireto no exterior, esses recibos garantem aos investidores os mesmos benefícios e proventos pagos aos acionistas que adquirem as ações na bolsa de valores original. Por fim, a tributação dos American Depositary Receipts segue as mesmas regras estabelecidas para operações de ações de empresas americanas.
Como são classificados os ADRs?
Existem dois tipos de classificação utilizados para categorizar os ADRs. A primeira, os divide entre “patrocinados” e “não-patrocinados”, segundo o grau de relação estabelecido entre a empresa estrangeira e a instituição depositária dos EUA. A segunda, os elenca em níveis de 1 a 3, de acordo com os ambientes em que esses títulos podem ser negociados.
Mas vamos por parte. Para evitar confusão, vamos explicar cada uma dessas classificações individualmente, começando pela primeira.
ADRs patrocinados
Os ADRs patrocinados são emitidos pela depositária com a cooperação da empresa estrangeira. São assim chamados porque há interesse por parte da companhia em listar suas ações nas bolsas norte-americanas.
Nesse caso, a empresa estrangeira assume a responsabilidade de fornecer todas as informações necessárias aos investidores conforme a legislação local. Isso pode incluir a manutenção de registros, a divulgação de comunicados aos acionistas norte-americanos, entre outras medidas. Por essa razão, são considerados ativos mais “seguros”.
Os ADRs patrocinados são o modelo mais negociado nos Estados Unidos, uma vez que essa cooperação e transparência são frequentemente requisitos para a listagem desses papéis nas principais bolsas de valores norte-americanas.
ADRs não patrocinados
ADRs não-patrocinados são recibos emitidos pela instituição depositária sem a participação efetiva da empresa emissora das ações em que esses ativos são lastreados.
Nesse caso, o interesse em negociar essas ações nas bolsas norte-americanas são parte da companhia estrangeira, mas sim da instituição financeira ou de uma corretora que pretenda estabelecer um mercado de negociação nos Estados Unidos. A divulgação de informações não precisa estar em conformidade com nenhuma legislação específica.
Diferentemente dos ADRs patrocinados, os American Depositary Receipts não patrocinados não podem ser negociados em bolsas, apenas no mercado de balcão.
Quais são os tipos de ADRs?
Além da divisão entre recibos patrocinados e não patrocinados, os ADRs também são elencados em três níveis — além de uma categoria especial destinada a investidores institucionais qualificados —, segundo os mercados em que podem ou não ser operados.
Esse tipo de categorização implica diretamente no volume de negociações e nas exigências que a empresa estrangeira deve cumprir. Abaixo explicamos como cada um deles funciona:
ADRs de nível I
O nível I corresponde aos ADRs mais básicos e com menor grau de exigência quanto à divulgação de informações. Podem ser lançados por empresas que pretendem acessar o mercado norte-americano, mas que não têm interesse em atender a exigências maiores de transparência.
Esse tipo de ADR só pode ser operado no mercado de balcão e costuma ter baixa liquidez, ou seja, não há um grande volume de negociação. Além disso, não há nenhuma obrigação quanto ao lançamento de novas ações no mercado.
ADRs de nível II
O nível II engloba um grau intermediário de ADRs. Esses títulos são negociados nas bolsas de valores, como a NYSE e a Nasdaq, e exigem que a empresa estrangeira esteja em conformidade com as legislações de transparência norte-americanas.
Para isso, suas demonstrações financeiras devem estar alinhadas ao US GAAP (United States Generally Accepted Accounting Principles) e obedecer aos padrões da SEC (Securities and Exchange Commission — órgão estadunidense equivalente à CVM).
ADRs de nível II não exigem a realização de ofertas públicas de novas ações, ou seja, são recibos lastreados em papéis já emitidos anteriormente pela companhia estrangeira.
ADRs de nível III
O Nível III representa o patamar mais alto e prestigiado do mercado de ADRs. Além de cumprir todas as exigências do US GAAP e da SEC, para serem classificados nessa prateleira, os ADRs precisam ser lastreados em novas ações.
Isso significa que a empresa estrangeira precisa fazer uma oferta pública de novas ações (seja por IPO ou follow on) para serem atreladas aos American Depositary Receipts correspondentes.
ADRs 144a
Além das ADRs de níveis I, II e III, também existe um tipo especial de American Depositary Receipt emitido sob o amparo da Regra 144a da SEC: o ADR 144a.
Essa regra, introduzida em 2012, visa facilitar a emissão de títulos destinados exclusivamente a investidores institucionais qualificados (QIB — “Qualified Institutional Buyers“, segundo o termo original no inglês).
Ao contrário de outros ADRs listados em bolsa, essa classe de ativos não precisa ser registrada na SEC e sem apresentar toda documentação necessária para ser oferecida ao público. O órgão assume que os QIB são capazes de avaliar e assumir riscos associados a títulos restritos por conta própria.
Apesar de ser limitada a um público bastante restrito, dado o porte dos compradores, esse tipo de papel pode facilitar a captação de grandes quantias pelas companhias estrangeiras, quando em comparação aos ADRs tradicionais. Além disso, já que não precisam obedecer nenhuma formalidade legal, a emissão desses papéis também é menos onerosa do que o Nível II e III.
Após mais de uma década, a Regra 144a segue sendo objeto de debate. Há, por exemplo, a preocupação de que a falta de registro da SEC facilite ofertas fraudulentas de companhias estrangeiras. Além disso, também existe a teoria de que a norma ocasiona a redução da variedade de títulos disponíveis para pequenos investidores.
Quais são as vantagens de investir em ADRs?
Os ADRs foram criados para facilitar a vida de investidores norte-americanos interessados em aplicar em ações de empresas estrangeiras. No entanto, investidores estrangeiros, incluindo brasileiros, também podem encontrar benefícios interessantes ao explorar esse mercado.
Entre as vantagens mais contundentes dos ADRs estão:
Internacionalização do portfólio
Já pensou como seria complicado, por exemplo, incluir na carteira de investimentos ações de empresas estrangeiras como a Volkswagen, Mitsubishi e Nestlé, as adquirindo diretamente nas bolsas de valores onde essas empresas estão listadas originalmente?
Apenas para investir nestas três empresas, seria necessário abrir uma conta internacional na Alemanha, uma no Japão e outra na Suíça. O investidor teria ainda que lidar com três taxas de câmbio diferentes (euro, franco suíço e iene). E, por fim, seria recomendado saber ao menos o básico de alemão, japonês e suíço para manter-se informado sobre suas aplicações e o mercado de cada um desses países.
Ao investir em ADRs, esse processo é simplificado. Com apenas uma conta com uma corretora norte-americana, os investidores podem se expor a empresas estrangeiras, internacionalizando o portfólio, sem lidar diretamente com as complexidades de abrir contas em diferentes países, lidar com múltiplas moedas e enfrentar barreiras linguísticas. Como esses certificados são negociados nos mercados dos EUA, toda a operação será feita em dólar e em inglês.
Diversificação geográfica
Juntas, as bolsas de valores dos EUA oferecem acesso a mais de 3 mil companhias de fora dos Estados Unidos, permitindo que os investidores tenham exposição a diferentes mercados e setores globais de maneira simplificada.
Ao diversificar a carteira com ações estrangeiras de diferentes países, o investidor blinda seu patrimônio dos riscos particulares de investir em uma única economia e moeda.
Retorno em dólar
Uma vez que são negociados em dólar, os retornos dos ADRs também são na moeda norte-americana.
Para investidores estrangeiros, como o brasileiro, essa é uma maneira bastante prática de ter acesso a rendimentos e dividendos em uma moeda mais sólida e cinco vezes mais valiosa que o real.
Maior liquidez
Além da capitalização, as bolsas norte-americanas, como a Nasdaq e a NYSE, também são conhecidas pela magnitude do volume de negociações. Para o investidor, isso reflete em maior facilidade para comprar ou se desfazer de seus ADRs. Em termos técnicos: resulta em maior liquidez.
Benefícios para empresas estrangeiras
Apesar deste artigo estar focado em investidores, não há como falar das vantagens proporcionadas pelos ADRs sem citar os benefícios dessa modalidade de aplicação para as empresas estrangeiras.
Ao listar seus ADRs nos mercados dos EUA, as empresas têm acesso a uma base mais ampla de investidores, aumentando sua visibilidade e liquidez. Além disso, isso permite que companhias originárias de economias menores levantem recursos no maior mercado de capitais do mundo.
Quais são os riscos de investir em ADRs?
Ter a chance de internacionalizar o portfólio com ações de marcas estrangeiras reconhecidas globalmente e ainda, de quebra, receber dividendos em dólar, é, certamente, algo bastante atrativo para investidores brasileiros.
Contudo, como qualquer outro investimento, ADRs também apresentam pontos negativos que precisam ser minuciosamente observados para determinar se realmente valem a pena. Por isso, após destacarmos as vantagens, é hora de virarmos a chave para apresentar aqueles que consideramos os riscos mais significativos dessas aplicações. São eles:
Risco cambial
A taxa de câmbio é um risco comum para quem investe no exterior. E isso também vale para quem adquire ADRs.
Como os rendimentos desses certificados são em dólar, eles serão diretamente impactados pela variação cambial entre o dólar norte-americano e o real brasileiro.
Embora seja verdade que os retornos podem ser potencializados com o aumento do dólar, o oposto também é possível. Ou seja, o investidor pode sair perdendo quando o real se valoriza.
Risco inflacionário
O desempenho de um ADR está vinculado ao preço das ações no país de origem da empresa emissora das ações.
Por isso, sua performance é diretamente impactada pela estabilidade da moeda desse país. Sempre que esta moeda perde valor de compra, o ADR também desvaloriza.
Risco político
Eventuais instabilidades políticas no país de origem da ação podem impactar o desempenho da empresa emissora e, consequentemente, do American Depositary Receipt em si.
Além disso, as relações econômicas e diplomáticas entre esse país e os Estados Unidos também podem afetar a empresa.
Risco de mercado
ADRs funcionam, na prática, como ações. São produtos de renda variável e suscetíveis às oscilações do mercado.
Seu desempenho pode ser influenciado por uma série de fatores sistemáticos (riscos específicos de uma empresa) e não sistemáticos (eventos macroeconômicos e políticos que estão fora do alcance da companhia).
Essa volatilidade, somada às variações cambiais, pode levar investidores menos familiarizados com mercados voláteis a tomar decisões por impulso.
Desvantagens para empresas
Já que pouco antes mencionamos os benefícios oferecidos pelo mercado de ADRs para empresas estrangeiras, é justo também abordar as suas limitações.
De modo geral, as exigências para a negociação de ADRs podem ser bastante rigorosas, o que acaba impossibilitando muitas companhias de ingressarem nas bolsas dos EUA. Fora isso, os custos associados às operações de companhias estrangeiras, especialmente para ADRs de nível III, nos mercados acionários, também pode ser um limitante para pequenas empresas.
Como investir em ADRs?
Embora os ADRs tenham sido desenvolvidos para facilitar o acesso de investidores norte-americanos a empresas estrangeiras, não é preciso ser estadunidense e nem mesmo morar nos EUA para investir nestes certificados.
Se você está considerando investir em ADRs, mas não sabe como começar a negociar esses ativos, fique tranquilo. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, fazer isso é tão simples quanto aplicar em ações na B3, por exemplo.
Tudo o que você precisa é seguir este simples passo a passo:
Abra uma conta com uma corretora internacional
Para investir em ADRs é preciso ter acesso às bolsas de valores dos Estados Unidos. Logo, é indispensável abrir uma conta internacional com uma corretora norte-americana.
Felizmente, hoje, não faltam opções acessíveis e receptivas de corretoras internacionais para investidores brasileiros. Entre as mais conhecidas estão a Avenue, C6 Bank, Inter e Nomad. Todas elas contam com atendimento e plataforma de negociação 100% em português.
É importante, contudo, ter o cuidado de ponderar as vantagens e desvantagens de cada uma dessas instituições financeiras, antes de decidir-se por uma delas. Compare, por exemplo, as taxas de corretagem, investimentos mínimos e outras taxas adicionais, como mensalidades e custódia. Todos esses fatores variam de corretora para corretora.
Uma vez decidida a instituição financeira, basta entrar no site e buscar pelo botão de cadastro, preencher seus dados e fazer o download dos documentos requisitados. Essa parte é bastante simples e intuitiva.
Transfira recursos para a corretora
Depois de abrir sua conta, é necessário transferir os recursos que serão aplicados para a conta da corretora. É importante lembrar que, como os ADRs são negociados nos EUA, será preciso realizar a conversão de reais para dólares.
Nesse sentido, vale ressaltar que toda operação de câmbio incorre em Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) a uma alíquota de 0,38%. Além disso, as taxas de corretagem cobradas pela corretora também são em dólar. É importante considerar que a cotação do dólar para transferências internacionais normalmente é baseada no câmbio comercial, acrescido de um pequeno adicional.
Selecione os ADRs e emita a ordem de compra
Com os fundos disponíveis em sua conta, basta acessar o home broker — a plataforma de investimento — da corretora para escolher os ADRs que você pretende adquirir.
Quando estiver seguro de ter encontrado uma boa oportunidade, basta selecionar o investimento desejado e emitir a ordem de compra.
Monitore seus investimentos
Após incluir ADRs em sua carteira, lembre-se de acompanhar regularmente o desempenho desses investimentos para garantir que tudo esteja sob controle. Se julgar necessário, faça o rebalanceamento do seu portfólio.
Simples como contar até 3, não é mesmo?
Quais são as diferenças entre ADRs e BDRs?
Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são os equivalentes brasileiros aos ADRs norte-americanos. Em outras palavras, são certificados de depósito lastreados em ações estrangeiras negociados na bolsa de valores brasileira — incluindo empresas dos EUA.
Apesar de funcionarem de modo bastante similar, esses ativos guardam algumas diferenças, conforme exposto abaixo:
- Brazilian Depositary Receipts (BDRs)
- Estão listados na B3, a bolsa de valores do Brasil;
- São cotados em reais;
- Devem obedecer às regulamentações e exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão brasileiro responsável pela regulação do mercado de capitais, e da própria B3;
- Existem cerca de 900 BDRs para negociação na bolsa de valores brasileira.
- American Depositary Receipts (ADRs)
- São listados nas bolsas de valores dos EUA, como a NYSE e a Nasdaq, ou no mercado de balcão deste país;
- Estão cotadas em dólar;
- Suas emissões estão sujeitas regulamentações do SEC e suas demonstrações precisam estar alinhadas aos padrões da US GAAP;
- Existem mais de 3 mil ADRs para negociação no mercado norte-americano.
Vale citar que ambos, ADRs e BDRs, são modalidades que fazem parte de um um grupo maior de investimentos presentes nas bolsas de todo o mundo: os Global Depositary Receipts (GDRs). Ou seja, cada país conta com produtos similares criados para facilitar o acesso de seus cidadãos a empresas estrangeiras por meio de suas respectivas bolsas de valores.
Quais empresas brasileiras têm ADRs?
Entre as mais de 3 mil empresas estrangeiras presentes nas bolsas norte-americanas, obviamente, não poderiam faltar representantes brasileiras. E não são poucas. Aproximadamente 80 empresas brasileiras são listadas por meio de ADRs nos EUA. Vale citar ainda que dos 50 ADRs mais negociados, 4 são brasileiros.
Entre os principais ADRs brasileiros negociados no mercado dos Estados Unidos estão:
Empresa | Ticker na B3 | Ticker ADR | Bolsa de negociação nos EUA |
Ambev | ABEV3 | ABEV | NYSE |
Azul | AZUL4 | AZUL | NYSE |
Bradesco | BBDC3 e BBDC4 | BBD e BBDO | NYSE |
Brasken | BRKM5 | BAK | NYSE |
BRF | BRFS3 | BRFS | NYSE |
Cemig | CMIGG3 e CMIG4 | CIGC e CIG | NYSE |
Copel | CPLE6 | ELP | NYSE |
CPFL Energia | CPFE3 | CPL | NYSE |
Eletrobras | ELET3 e ELET6 | EBR e EBRB | NYSE |
Embraer | EMBR3 | ERJ | NYSE |
Gerdau | GGBR4 | GGB | NYSE |
Gol | GOLL4 | GOL | NYSE |
Itaú Unibanco | IRUB4 | ITUB | NYSE |
Oi | OIBR3 | OIBRC | Over The Counter (OTC) — Mercado de Balcão |
Petrobras | PETR4 | PBR | NYSE |
Telefônica Brasil | VIVT4 | VIV | NYSE |
Tim | TIMP3 | TIMB | NYSE |
Vale | VALE3 | VALE | NYSE |
Lojas Renner | LREN3 | LRENY | NYSE |
Natura | NTCO3 | NTCO | NYSE |
Localiza Rent a Car | RENT3 | LZRFY | OTC |
JBS SA | JBSS3 | JBSAY | OTC |
Cielo SA | CIEL3 | CIOXY | OTC |
Ultrapar | UGPA3 | UGP | NYSE |
Sabesp | SBSP3 | SBS | NYSE |
Apesar de menos comum, vale citar que existem empresas brasileiras que lançam BDRs e não ADRs. Isso significa que elas abriram capital em bolsas estrangeiras e depois emitiram certificados dessas ações na B3 (Bolsa de Valores do Brasil).
Esse é o caso, por exemplo, do Banco Inter, que mudou sua listagem da bolsa brasileira para a Nasdaq em 2022, mas manteve os BDRs na B3. Seu ticker na Nasdaq é INTR, enquanto seu BDR é negociado na B3 com o código INBR31.
Outras marcas conhecidas que seguiram esse “processo inverso” incluem: a PagSeguros — primeira empresa brasileira negociada na Bolsa de Valores de Nova Iorque a ter BDRs lançados na B3 —, originalmente listada na NYSE com o ticker PAGS, e na bolsa brasileira com o código PAGS34.; e a Nubank, negociada nos EUA como NU e no Brasil pela BDR NUBR33.
Além desses exemplos, até o primeiro semestre de 2022, outras 11 empresas nacionais já haviam aberto capital nos EUA antes de lançarem BDRs no Brasil. A maioria delas do setor de tecnologia e de serviços financeiros, dois mercados altamente desenvolvidos nos Estados Unidos.
Como os dividendos são pagos em ADRs?
Por mais que os ADRs sejam certificados rastreados em ações subjacentes, quem investe nesses títulos tem os mesmos direitos garantidos aos investidores que aplicam diretamente nessas empresas em suas bolsas de origem. Isso inclui, por conseguinte, sua parte na distribuição de dividendos.
Diferentemente dos acionistas que aplicam localmente, porém, quem investe em ADRs recebe seus rendimentos convertidos em dólares, e não na moeda local da companhia em questão.
Além disso, os retornos desses recibos são, comumente, inferiores aos pagos diretamente aos investidores que acessam as bolsas onde essas ações são originalmente listadas.
Isso ocorre porque esses valores podem ser impactados por taxas de custódia — uma alíquota de 3% a 5% sobre os dividendos distribuídos cobrada pelas instituições financeiras que fazem a guarda das ações originais no exterior —, que são deduzidas dos pagamentos antes de chegarem aos titulares dos ADRs.
Distribuição de dividendos de ADRs para brasileiros
Além das taxas de custódia, Investidores brasileiros devem considerar ainda a tributação dos EUA, que retém 30% dos rendimentos dos dividendos na fonte.
Quem já está acostumado a investir em empresas nacionais pela B3 deve ter o cuidado de colocar todos esses descontos na ponta do lápis para evitar desapontamentos ou prejuízos ao seu planejamento.
Considere que enquanto os dividendos, isentos de tributação no Brasil, são pagos integralmente para as ações locais, quem investe em ADRs recebe aproximadamente 65% do valor original distribuído.
Esses rendimentos, já descontados, são depositados pela instituição financeira norte-americana — a depositária — diretamente na conta de corretagem dos investidores, em dólar.
O investidor brasileiro tem a opção de manter esses valores em sua conta na moeda norte-americana ou convertê-los para real. A conversão é realizada diretamente pela corretora, que aplica a taxa de câmbio do dia. Nesse caso, há ainda a cobrança de uma alíquota de 0,38% de IOF.
Por fim, mas não menos importante, é de suma importância observar que nem todos ADRs pagam dividendos. Isso porque, diferentemente das empresas brasileiras, que são obrigadas a distribuir ao menos 25% de seus lucros com os acionistas, empresas internacionais, a depender de suas legislações locais, podem não possuir essa exigência.
Em alguns países, a companhia pode optar entre distribuir seus lucros ou reter esses valores para fortalecer o caixa ou impulsionar suas atividades.
Vale a pena investir em ADRs?
Infelizmente, quando falamos de produtos financeiros nunca há uma resposta definitiva para este tipo de questionamento — e com os ADRs não haveria de ser diferente. Tudo dependerá, ao fim, de avaliar se esses títulos cabem em seu planejamento financeiro e se estão de acordo com seu perfil de investidor.
Logo de cara, é preciso dizer que ADRs não são investimentos indicados para investidores iniciantes ou conservadores. Estamos falando de produtos financeiros de renda variável, voláteis como ações, e negociados em um mercado no exterior. Além disso, apresentam consideráveis riscos adicionais, como o cambial, comum a todos os investimentos no exterior, e riscos políticos diversos.
Quem tem a pretensão de investir em ações de companhias internacionais, mas não quer abrir uma conta internacional ou lidar com transferências internacionais e câmbio, pode explorar primeiramente produtos semelhantes negociados na bolsa de valores brasileira, como os BDRs — dos quais já falamos anteriormente — e os ETFs, que são fundos de investimento que seguem índices de mercado de diferentes países, incluindo as bolsas norte-americanas.
Agora, quem já tem uma conta internacional e alguma experiência negociando ativos de renda variável no exterior certamente deve considerar o investimento em ADRs. Afinal, essa é uma maneira bastante prática de internacionalizar o portfólio, investindo em empresas e setores em diferentes partes do mundo, sem a necessidade de lidar com complexidades como barreiras idiomáticas, regulamentações específicas e conversões em diferentes moedas. Sabemos que é chover no molhado, mas, quando o assunto é investimentos, diversificar nunca é demais.
Lembre, contudo, que investir em ADRs exige mais pesquisa e cuidado do que investir em ações no Brasil, ou mesmo nos Estado Unidos.
Primeiramente, se você, assim como muitos investidores que aplicam no exterior, está buscando uma fonte de renda em dólar, tenha o cuidado de observar se a empresa emissora estrangeira da ação subjacente tem por prática o pagamento de dividendos. Essa é uma obrigação para companhias de capital aberto no Brasil, mas não é uma regra comum a todos os países. Não esqueça ainda de considerar todas as taxas, conversões e tributos envolvidos neste tipo de operação.
Por fim, lembre-se que o desempenho dos ADRs segue a cotação das ações em suas bolsas de origem. Portanto, é essencial manter-se informado sobre a situação econômica e política do país de origem das empresas. Fatores como inflação descontrolada, desvalorização da moeda local ou problemas diplomáticos com os Estados Unidos podem impactar diretamente no preço desses ativos.
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