InícioInvestimentosFundos de Infraestrutura: cota patrimonial x cota de mercado

Fundos de Infraestrutura: cota patrimonial x cota de mercado

Quando falamos de um fundo listado em bolsa, como um Fundo de Debêntures Incentivadas ou um Fundo Imobiliário, os termos “cota de mercado” e “cota patrimonial” têm significados específicos. 

Na hora de fazer uma aquisição e compor o seu portfólio, é importante que você entenda essa diferença e como ela pode afetar o desempenho dos seus investimentos. Curioso? Siga comigo para entender melhor!

O que é uma cota patrimonial?

A cota patrimonial de um fundo é o valor líquido dos ativos do fundo dividido pelo número total de cotas emitidas. Essencialmente, representa quanto vale cada cota com base no valor dos ativos que o fundo possui (como imóveis, no caso de FIIs, ou debêntures, no caso dos Fundos de Infraestrutura), menos quaisquer passivos, dividido pelo número total de cotas.

Esse tipo de cota é um indicador importante da saúde financeira e do valor intrínseco do fundo. Por isso, é frequentemente usada para comparar com o preço de mercado da cota para avaliar se ela está sendo negociada com ágio (acima da cota patrimonial) ou com deságio (abaixo da cota patrimonial).

Vamos a um exemplo?

Apesar de estarmos falando de Fundos de Debêntures Incentivadas, ou Fundos de Infraestrutura, fica mais fácil fazer esse exemplo com FIIs.

Vamos dar uma olhada no valor patrimonial de um fundo simples:

Fonte: Finclass

Veja, o patrimônio do fundo totaliza R$60,3 milhões.

Para encontrar a cota de mercado, basta você dividir o valor patrimonial do fundo como um todo pelo número de cotas que o fundo é dividido (vamos considerar 600 mil nessa suposição).

Qual seria o valor da cota patrimonial?

Fonte: Finclass

Se dividirmos o patrimônio do fundo pelo número de cotas, chegaremos ao número R$100,50, ou seja, essa é a cota patrimonial do fundo.

O que é uma cota de mercado?

A cota de mercado, por outro lado, se refere ao preço pelo qual as cotas (ou unidades) do fundo são negociadas no mercado de bolsa. Este preço é determinado pela oferta e demanda dos investidores no mercado e pode variar ao longo do dia de negociação, assim como as ações de empresas listadas em bolsa.

O valor da cota de mercado reflete a percepção dos investidores sobre o valor do fundo, levando em consideração fatores como o desempenho dos ativos subjacentes do fundo, as expectativas futuras, o ambiente econômico, a qualidade do time de gestão, entre outros.

O conceito basicamente nos mostra o quão dispostos os investidores estão a comprar aqueles imóveis, ou aquele time de gestão, que compõem um Fundo Imobiliário, por exemplo. Ela pode se descolar de sua cota patrimonial de maneira relevante.

A nossa intuição nos faz acreditar que, quando isso acontece, um fundo está “caro”, ou seja, se investidores estão dispostos a pagar um valor superior ao valor justo dos ativos lá dentro, talvez seja a hora de esperar um pouco.

Até aqui tudo certo? Não necessariamente.

Um bom fundo pode ser consistentemente negociado acima de sua cota patrimonial por conta de um portfólio de ativos excelente, que não é replicável através de outro fundo porque os ativos são escassos, ou porque a gestão do fundo consegue fazer o que chamamos de giro do portfólio eficiente. Ou seja, consegue vender os ativos a valores atrativos, comprar outros ativos e fazer isso de maneira consistente.

Vamos voltar ao exemplo anterior e vamos supor que a cota de mercado do nosso fundo esteja hoje R$105,00, frente à cota patrimonial de R$100,50. É desvantajoso investir nesse fundo? Não necessariamente.

Vamos supor que o fundo venda o Imóvel C por R$25 milhões, com uma avaliação de R$20 milhões. O que vai acontecer com a cota patrimonial do fundo nesse momento?

Voltemos para a planilha:

Fonte: Finclass

No exemplo acima, enquanto o fundo não realoca o recurso e distribui o lucro da operação, a cota patrimonial subiu para R$108,83, um valor superior à cota de mercado, de R$105,00.

O que tende a acontecer depois da operação? A cota de mercado deve subir.

Se a gestão de um fundo faz essas operações rentáveis de maneira recorrente, é normal que investidores, cada vez mais acostumados com essas surpresas positivas, topem pagar um valor superior à cota patrimonial dado esse “prêmio de qualidade” da gestão.

Como funcionam os fundos de infraestrutura?

Os Fundos de Infraestrutura são fundos de renda fixa. Nesses casos, nunca vamos olhar preço, mas sim a taxa.

Ou seja, precisamos entender se estamos pagando uma taxa maior ou menor do que a “taxa patrimonial” de um Fundo de Infraestrutura. Mesmo se estivermos pagando um valor acima do que seria o justo, ou seja, recebendo uma taxa inferior à “taxa patrimonial”, ainda assim ela é vantajosa.

Como vamos fazer isso? A resposta simples é: você vai dividir a cota de mercado pela cota patrimonial do fundo

Se o resultado ultrapassar um determinado limite, suspenderá as compras de novas cotas. Para alguns fundos, essa suspensão ocorre quando o valor ultrapassa um patamar de 1,05. Para outros, a suspensão é antecipada, ocorrendo quando o resultado excede 1,035. O cálculo segue o mesmo princípio, mas o ponto de corte pode variar de acordo com o ativo.

O que está por trás desses números?

Nessa simples conta, quero identificar qual a diferença entre a taxa a que estou comprando os ativos lá dentro, mesmo que de maneira indireta, e a “taxa patrimonial” do fundo — a taxa média de retorno dos ativos lá dentro.

Podemos comprar um Fundo de Infraestrutura com uma cota de mercado superior à cota patrimonial, o que no final das contas vai se traduzir como uma compra, mesmo que indireta, dos ativos dentro de um fundo por uma taxa inferior à “taxa patrimonial”. Mesmo assim, esse investimento pode ser vantajoso.

De que maneira?

Vamos imaginar que um Fundo de Infraestrutura tenha uma carteira que pague, na média, uma taxa de IPCA + 8% ao ano. Considere que a taxa de um título público IPCA+ de prazo de vencimento semelhante está em IPCA + 5,50%.

Pelo fato de a cota de mercado desse fundo estar superior à cota de mercado, a taxa média que eu vou “levar” nesse caso será de IPCA + 7,50%.

Apesar de estar investindo em um fundo de infraestrutura por um valor acima do “justo” e recebendo consequentemente uma taxa de retorno inferior à “taxa justa” (ou “taxa patrimonial”, como chamamos anteriormente), o investimento ainda é vantajoso. Isso porque a taxa que vamos levar é significativamente maior do que a de um título público de vencimento semelhante.

O que está por trás desses números de 1,05 e 1,035?

Você não precisa calcular isso, mas talvez goste de entender de onde esses números vieram. Para chegar neles, precisamos de um indicador extremamente importante: o prazo médio de vencimento da carteira dos fundos ao longo do tempo. Com isso em mente, conseguimos colocar um limite na diferença entre cota de mercado e cota patrimonial.

Se o prazo médio de um desses fundos é de cinco anos, isso significa que, para cada 1% de desvio da cota de mercado com relação à cota patrimonial, o retorno do meu investimento sobe/cai 0,20%.

Vamos analisar um exemplo simples para entender melhor.

Se eu tenho um Fundo de Infraestrutura com uma carteira de debêntures pagando, na média, IPCA + 8% ao ano, com um prazo médio de vencimento de 5 anos e cota de mercado 5% acima da cota patrimonial, a rentabilidade desse meu investimento será de aproximadamente o IPCA + 7%.

Se a cota de mercado estivesse 5% abaixo da cota patrimonial, o retorno esperado desse meu investimento seria de IPCA + 9%. Ou seja, acrescentaria 1% na minha expectativa de retorno anual com esse fundo.

Considerando um fundo com prazo médio de vencimento da carteira de cinco anos, e uma “taxa patrimonial” de IPCA + 8% ao ano, essa seria uma tabela de sensibilidade da cota do fundo:

Fonte: Finclass

Essa tabela poderia ser bem diferente se o prazo médio de vencimento da carteira fosse outro, mas é importante você entender brevemente de onde vêm os números que passam a ser baliza para suspensão de novas compras.

Os números visam impedir novos investimentos com taxas finais muito menores do que a “taxa patrimonial” de um Fundo de Investimento.

Quer continuar aprendendo sobre o assunto?

Então, o que acha de assinar a Finclass? Por lá, você encontra outros conteúdos como esse sobre cotas patrimoniais e de mercado, que vão te ajudar a montar um portfólio sustentável e se tornar um investidor mais inteligente. Ainda, você tem acesso às carteiras recomendadas pelos nossos especialistas, com sugestões pontuais de ativos para a sua estratégia, seja ela juntar patrimônio ou conquistar uma boa renda passiva. Nos vemos por lá?

Guilherme Cadonhotto
Guilherme Cadonhotto
Além de Estrategista da Finclass, Guilherme Cadonhotto é reconhecido como um grande especialista em Renda Fixa. Bacharel em Economia pela FGV e pela Nova School of Business and Economics e mestrando em Economia e Finanças pelo IDP. Tem experiência na gestão de fundos de investimento de Renda Fixa, Crédito Privado e Multimercado, hoje ele ensina seus alunos e seguidores como conseguir, investindo em renda fixa, rendimentos tão grandes (ou até maiores) que os das ações.
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