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Como investir no exterior morando no Brasil

É muito comum ouvir que a população está com medo dos riscos econômicos do Brasil. Esse receio é completamente compreensível.

A política interfere demais na economia, a tributação é complicada, as decisões econômicas e monetárias tomadas pelos políticos nem sempre parecem as melhores. Enfim: são inúmeras as incertezas financeiras que você com certeza conhece e das quais  gostaria de se proteger, não é mesmo?

A boa notícia é que existe uma maneira bastante prática para proteger-se do chamado Risco Brasil: investir parte do seu dinheiro no exterior!

Diversificar seu patrimônio vai além de ter investimentos em renda fixa ou possuir uma variedade de ações. Uma das grandes sacadas dos melhores investidores é possuir também parte do que investem em diferentes países. Para conseguir isso, investem em Estados Unidos, Europa, mercados emergentes. Ou seja, aproveitam todos os recursos de diversificação internacional disponíveis.

Se você também quer fazer o mesmo que esses grandes investidores, esse artigo pode ser seu guia. Ao longo dele, apresentaremos tudo o que é preciso saber para investir no exterior morando no Brasil, incluindo: 

  • Por que vale a pena investir no exterior;
  • Quais os documentos necessários para investir no exterior;
  • Quanto é preciso para investir no exterior;
  • Como enviar dinheiro para o exterior;
  • Através de quais fundos posso investir no exterior;
  • Tipos de investimento disponíveis no exterior;
  • Passo a passo para investir no exterior.

Gostou? Então reserve uns minutinhos do seu dia e venha com a gente descobrir todas as formas para fazer seu dinheiro render no exterior, e o passo a passo completo para investir em ações, fundos e outros ativos internacionais!

O que significa investir no exterior?

Investir no exterior significa, simplesmente, aplicar dinheiro em ativos financeiros negociados fora do Brasil

Para usar um exemplo bastante óbvio, um brasileiro que adquire participações de companhias estrangeiras, como a Coca-Cola ou a Apple, está, na prática, investindo internacionalmente. Importante citar, contudo, que os investimentos no exterior não se restringem às ações. Também incluem os bonds (ativos de renda fixa semelhantes às debêntures e aos títulos do Tesouro), cotas de fundos internacionais, imóveis, e assim por diante.

Por mais que para muita gente isso ainda possa parecer algo distante ou muito complicado, esse tipo de investimento nunca foi tão prático e acessível como hoje. Esse já não é mais um mercado restrito a quem tem muito dinheiro, ou para quem reside no exterior. 

Mas isso é assunto que detalharemos ao longo do artigo. Por ora, basta dizer que existem diferentes maneiras para investir no exterior – seja diretamente por meio de corretoras internacionais, ou indiretamente com produtos encontrados na B3.

Quais são os fundos que eu posso investir no exterior?

Investir no exterior pode mesmo parecer muito complexo para muita gente. Entre a barreira linguística, a necessidade acompanhar as prospecções cambiais e notícias econômicas e políticas que podem impactar o desempenho dos ativos mantidos no exterior, e a vastidão de produtos disponíveis, é normal que o investidor menos experiente ou ousado tenha seus receios sobre tomar esse passo.

A boa notícia para aqueles que duelam internamente entre a vontade de obter rendimentos em dólar e euro e o medo de investir em um mercado estrangeiro, é que eles não precisam tomar essas decisões sozinhos. Isso pode ser feito por meio de um Fundo de Investimento Internacional

Ao investir desse modo, você passa a ter acesso a uma renda extra em moeda estrangeira, sem a burocracia de selecionar e montar uma carteira de ativos estrangeiros.

Basicamente, esses fundos consistem em uma seleção de investimentos feita por profissionais da área — os chamados gestores. Esses profissionais analisam as oportunidades do mercado e montam seu portfólio de investimento de acordo com aquelas que acreditam ter maior chance de retorno.

Os fundos de investimento podem ser constituídos pelas mais variadas classes de ativos, incluindo:

Portanto, ao investir em um fundo, são diversas as possibilidades de investimento que você possui. A chave é escolher um fundo que tenha a proposta de investir naquilo que você procura e, principalmente, selecionar uma gestora confiável e com credibilidade.

ETFs (Exchange Traded Funds)

Os ETFs Exchange Traded Funds — são fundos passivos criados para replicar o desempenho de um índice de mercado.

Assim, se você possui um ETF que acompanha o S&P 500 — indicador que mensura a performance média das 500 maiores empresas dos Estados Unidos —, seu investimento irá seguir exatamente o comportamento desse índice.

A diferença é que os fundos ativos visam superar o mercado, enquanto os ETFs simplesmente o acompanham.

Mas não se engane: isso não quer dizer que os ETFs são piores que os fundos ativos! Isso porque os fundos ativos BUSCAM bater o mercado (não há garantia nenhuma de que irão conseguir fazer isso.

Na realidade, em mercados mais desenvolvidos — chamados de mercados eficientes — a maioria dos fundos ativos não consegue bater o mercado no longo prazo.

Veja o seguinte gráfico, que segue um estudo elaborado pela Vanguard Group, uma das principais gestoras de fundos do mundo:

Fonte: Vanguard Group

Definições do gráfico: Retorno anual relativo ao S&P 500

  • Vencedores sólidos: excedem em 2% ou mais;
  • Vencedores marginais: excedem em 1% a 2%;
  • Equivalentes ao mercado: entre -1% e 1%;
  • Perdedores marginais: perdem em -2% a -1%;
  • Perdedores sólidos: perdem em -2% ou mais.

Basicamente, o que o gráfico acima nos mostra é que, dentre 355 fundos ativos estudados desde 1970 até 2016, apenas aproximadamente 3% deles superou o mercado no longo prazo e apenas 0,6% deles realmente bateram o mercado com vantagens significativas.

Portanto, ao investir em fundos ativos, é fundamental que haja completa consciência dos riscos que existem no processo.

BDRs (Brazilian Depositary Receipts)

Além dos fundos internacionais e dos ETFs, existe também uma terceira forma de realizar investimentos internacionais: os BDRs (Brazilian Depositary Receipts).

Esses ativos nada mais são do que certificados que representam ações internacionais, mas que são negociados no Brasil. Ou seja, um BDR irá mostrar que você possui uma ação — ou uma fração de uma ação — internacional, como Google, Apple ou Facebook, por exemplo.

Vale ressaltar que os BDRs são certificados negociados no Brasil e que representam ações internacionais (não são ações propriamente ditas).

Quais são os tipos de investimentos disponíveis no exterior?

Neste momento, você já pôde compreender alguns dos instrumentos de investimento no exterior: os fundos, ETFs e BDRs.

Todos esses instrumentos acima podem ser encontrados em corretoras brasileiras para investimento.

No entanto, se você possuir conta em uma corretora internacional, outras oportunidades de investimento surgirão — stocks e REITs — além de ETFs listados nos Estados Unidos. Abaixo explicamos cada uma delas:

Stocks

Assim como os BDRs são certificados que representam ações ou frações delas, quando você possui uma conta em corretora internacional, é possível investir em ações diretamente. Essas ações internacionais são chamadas de stocks.

Não há segredo aqui: os stocks funcionam da mesma forma que as ações negociadas na B3, com a única diferença de serem listados em bolsas de valores internacionais.

REITs

Se os stocks correspondem às ações internacionais, os REITs (Real Estate Investment Trusts) são equivalentes a outra classe de ativos: os fundos de investimento imobiliário (FIIs).

Contudo, existem algumas diferenças entre os REITs e os Fundos Imobiliários brasileiros, como por exemplo a possibilidade de alavancagem (contrair dívida).

Porém, como regra geral, eles são muito semelhantes e são uma ferramenta muito boa para quem quer investir no setor imobiliário internacional — especialmente no setor imobiliário americano, que é o maior do mundo.

ETFs

Para finalizar, um dos mais tradicionais investimentos que você encontrará em corretoras internacionais são os ETFs.

Os ETFs internacionais funcionam exatamente como os brasileiros, sendo apenas listados em bolsas de valores internacionais — como a NASDAQ e a NYSE, as duas mais importantes  dos Estados Unidos e do mundo.

Quais são as vantagens de investir no exterior?

Se você está lendo este artigo, provavelmente tem interesse em investir no exterior ou tem dúvidas sobre como realizar esse investimento.

De qualquer forma, “investir por investir” não é recomendado em nenhum caso. Pelo contrário, é fundamental que haja um motivo claro para que você aplique no exterior. Ainda não tem convicção sobre os seus motivos? Que tal dar uma olhada nestas 5 vantagens que separamos?

Diversificação

A composição da carteira é o principal fator de sucesso de um portfólio de investimentos.

Nesse sentido, ter um portfólio bem dividido é praticamente sinônimo de fazer uma boa diversificação, a qual passa por 3 grandes pilares:

  • Diversificação entre ativos;
  • Diversificação entre classes de ativos;
  • Diversificação entre países.

Como você pode perceber, apenas diversificar entre ativos — ter diferentes ações, por exemplo — ou entre classes de ativos — ter ações e renda fixa — não é suficiente para garantir uma diversificação completa.

Para ter certeza de que sua diversificação é efetiva, é importante também investir em países estrangeiros através de fundos no exterior, ações no exterior e outras classes de investimento que veremos adiante.

Redução de risco

Não há como falar sobre diversificação sem falar de risco ao mesmo tempo.

Afinal, a diversificação não apenas é uma das chaves da rentabilidade, como acabamos de ver. Ela também é uma das principais responsáveis pela segurança da sua carteira, já que tem o potencial de minimizar seus riscos.

Imagine, por exemplo, que você investe todo o seu dinheiro em um único país e esse país tome um golpe e se instaure uma ditadura. Nesse caso é muito possível que a economia sofra por alguns ou diversos anos, não é?

Para evitar que você tenha todo o seu dinheiro concentrado nesse único país, é fundamental que você invista também no exterior. Desse modo, o risco será consideravelmente reduzido.

Exposição à economia mundial

Pense em 3 empresas que você admira profundamente. Agora responda: quais são os nomes delas?

Pode até ser que você tenha pensado em 3 empresas brasileiras. Porém, é muito provável que, dentre essas 3 empresas, uma ou mais delas sejam estrangeiras.

Apple, Google, AmazonEssas são algumas das companhias sobre as quais ouvimos todos os dias e que estão apenas nos Estados Unidos — muitas outras gigantes companhias são encontradas ao redor de outras geografias do mundo.

Ao investir no exterior, você não apenas será um consumidor dessas grandes empresas que muitos admiram e utilizam cotidianamente, como poderá ser na realidade sócio delas e ganhar uma parte de seus lucros.

Mas não para por aí! Ao investir no exterior, você pode também comprar imóveis — ou frações deles — por meio dos REITs, emprestar dinheiro para os governos mais sólidos do globo por meio de títulos públicos de renda fixa e também aproveitar outras classes de ativos.

Portanto, investir no exterior permite que você se exponha à economia global e consiga rentabilizar sua carteira com o melhor de cada uma das geografias.

Potencial de retorno

Como visto, a exposição a outros países permite que você não apenas encontre mais segurança em seus investimentos, como também te dá a possibilidade de se tornar sócio das principais companhias do mundo.

Como consequência, você se expõe a ativos com grandes capacidades de retorno sobre investimentos.

Para comprovar esse ponto, veja o seguinte gráfico, elaborado pela MSCI, uma das principais empresas elaboradoras de índices financeiros do mundo:

Fonte: MSCI

No gráfico acima, os índices “MSCI Brazil”, “MSCI Emerging Markets” e “MSCI ACWI” são ETFs que buscam acompanhar, respectivamente, o mercado de ações brasileiro, de mercados emergentes e mundial.

Ao observar esse gráfico, é possível perceber que o crescimento do mercado acionário no Brasil foi muito inferior quando comparado a seus pares e, ainda mais, quando comparado ao mundo como um todo.

Assim, em um mundo globalizado, no qual os preços de muitos produtos são dados em moeda estrangeira e os acontecimentos de outros países impactam diversas geografias (inclusive o Brasil), investir no exterior passa a ser algo fundamental para não ficar para trás e aproveitar as oportunidade de lucro que existem além da fronteira brasileira, concorda?

Variedade de ativos

Como você deve imaginar, se já existem diversas opções de investimento no Brasil — seja no mundo das ações, da renda fixa, ou dos fundos imobiliários —, imagine só quantas portas mais não se abrem quando temos o mundo todo como horizonte de investimentos.

Mas vamos deixar isso ainda mais evidente com alguns dados. Considerando a situação do Brasil com relação ao mundo no ano de 2018, podemos criar uma regra, chamada “regra do 3, 2, 1”. Veja só:

  • No ano de 2018, o PIB brasileiro representava aproximadamente 3% do PIB global;
  • O mercado de renda fixa brasileiro, por sua vez, representava aproximadamente 2% do mercado de renda fixa global;
  • Por fim, o mercado de ações brasileiro representava aproximadamente 1% do mercado de ações global.

Olhando para esses dados, você concorda que, investindo apenas no Brasil, você está perdendo a oportunidade de se permitir explorar um oceano de oportunidades?

Portanto, o último motivo fundamental pelo qual investir no exterior pode ser uma ótima oportunidade é justamente encontrar uma maior variedade de ativos.

Para terminar, veja a comparação entre o tamanho de mercado das maiores bolsas de valores do mundo, para ter uma dimensão da importância de investir fora do Brasil:

 

Quais são os riscos de investir no exterior?

De modo geral, é possível dizer que investir no exterior é tão ou menos arriscado que aplicar no Brasil

Primeiramente, a diversificação geográfica, como você já sabe, é uma forma de reduzir os riscos da sua carteira, já que mercados financeiros como o norte-americano ou o europeu são mais sólidos que o de países emergentes, como o Brasil. 

Fora isso, alguns dos produtos negociados no exterior costumam ser considerados mais seguros que seus equivalentes nacionais. É o caso, por exemplo, dos Treasury Bonds dos EUA, os títulos do Tesouro norte-americano, considerados por muitos como as aplicações mais seguras do mundo. Da mesma forma, ações de companhias tradicionais e com presença global, também tendem a ser menos suscetíveis a flutuações do que companhias restritas ao mercado brasileiro.

Isso não quer dizer, contudo, que não existam riscos de alocar seu dinheiro internacionalmente. Longe disso. Nenhum investimento é imune a perdas. Ao lidar com um mercado distante e mais abrangente, inclusive, o cuidado deve ser redobrado. 

Por isso, assim como apresentamos as vantagens de expor sua carteira às moedas estrangeiras, na sequência, apresentaremos aqueles que consideramos os principais riscos a serem observados. Caberá exclusivamente a você, considerando seu perfil e objetivos pessoais, ponderar essas informações e concluir se esse esforço vale à pena.

Risco Cambial

Por mais que a ideia de obter retornos em moedas mais valiosas que o real, como o dólar ou o euro, seja um dos principais atrativos de investir no exterior, o ganho com o câmbio não deve ser tido como algo certo. 

O mercado cambial, vale citar, é um dos mais sensíveis e imprevisíveis que existem. O preço das moedas varia constantemente, resultado de uma combinação de eventos econômicos e políticos diversos, dificultando previsões até para profissionais do mercado. 

Dito de modo mais direto: quando a moeda estrangeira do mercado em que você investe se valoriza em relação ao real, seus retornos são impulsionados. Por outro lado, se o real se valoriza, seus rendimentos no exterior podem ser reduzidos. 

Essa variabilidade não deve ser subestimada. Apesar de o dólar e o euro geralmente manterem preços mais estáveis a longo prazo, a história recente mostra que isso não é garantia absoluta. Basta observar que somente em 2023, o dólar acumulou uma queda de 8,08% em relação ao real.

Riscos sistemáticos e políticos

Os riscos sistemáticos referem-se a fatores externos ao controle da empresa emissora de um título. Esses eventos têm o potencial de impactar e comprometer todo o mercado financeiro, incluindo transições de governo, instabilidade política, mudanças nas taxas de juros, entre outros.

Geralmente, países emergentes ou democracias recentes, como o Brasil, tendem a ser mais sensíveis a esse tipo de risco. No entanto, é importante destacar que mesmo economias consolidadas, como a norte-americana ou as de países desenvolvidos da Europa, também estão sujeitas, em menor medida, a oscilações econômicas dessa natureza.

Riscos de crédito

Assim como no tópico anterior, o risco de crédito costuma ser menor no exterior, mas não inexistente. 

Para quem não está familiarizado com o termo, o risco de crédito pode ser simplificado popularmente como a “chance de calote” — isto é, a possibilidade de o emissor não cumprir suas obrigações.

Para mitigar esse risco, os investidores podem recorrer à classificação de crédito do emissor, realizada por agências especializadas de rating. Em geral, emissores com notas mais baixas tendem a oferecer retornos mais elevados como compensação. A decisão de aceitar ou não esse risco fica a critério do investidor.

Riscos específicos

Por fim, além dos riscos gerais associados ao investimento no exterior, é preciso ainda considerar os riscos específicos inerentes a cada modalidade de aplicação.

Quem investe em ações no exterior, por exemplo, não está exposto apenas ao risco cambial e sistemático, mas também aos riscos da empresa emissora e ao setor ao qual esta faz parte. 

Cada produto conta com seus pontos fracos e fortes. Antes de realizar aplicações no exterior, é essencial que o investidor analise minuciosamente essas particularidades, sem se deixar influenciar apenas pelo fator cambial.

O que é preciso saber antes de começar a investir no exterior?

Se os riscos e desvantagens de investir no exterior não foram capazes de ofuscar os benefícios de diversificar sua carteira geograficamente e passar a ter acesso a uma fonte de renda passiva em uma moeda mais forte, reservamos algumas dicas que podem lhe ajudar a ingressar no mercado estrangeiro com o pé direito. 

Antes de começar a investir no exterior, não esqueça de conferir:

Seu perfil de investidor

A ideia de investir em empresas de renome global e obter rendimentos em dólar e euro pode ser realmente muito atrativa para quem vive no Brasil. Contudo, é preciso ressaltar que, apesar dessas e outras vantagens, investir no exterior não é algo para todos.

Além de riscos específicos de cada tipo de produto, o câmbio adiciona um risco adicional que não pode ser negado ou subestimado. De modo geral, o recomendado é já ter alguma segurança com o mercado de investimento doméstico e estar disposto a assumir algum grau de risco.

Dito objetivamente: esse não é um mercado indicado para quem nunca investiu ou para investidores estritamente conservadores. Caso você não tenha certeza de qual o seu perfil de investidor — ou seja, qual sua tolerância a riscos —, é aconselhável solicitar um teste de suitability junto a sua corretora ou a um profissional de mercado de confiança.

Taxa de câmbio

Não há como ser diferente: quando se fala de investimentos no exterior, a taxa de câmbio é a primeira coisa que vem à mente do investidor. Os mais positivos apostam nela como uma forma de obter um rendimento extra, enquanto os menos ousados podem vê-la como um impeditivo, já que não querem assumir o risco cambial. Quem está certo?

É difícil dizer. Ao fim, ambas são realidades possíveis. Isto é: o dólar, por exemplo, tanto pode valorizar, quanto desvalorizar frente ao real. Quem investe no exterior tem que entender e aceitar que essas flutuações vão, irremediavelmente, impactar positiva ou negativamente em seus retornos

Historicamente, contudo, mesmo que passem por períodos de desvalorização, no longo prazo, moedas mais fortes tendem a perder valor de compra em uma velocidade bem menor que o real. Voltando a um exemplo que já usamos neste artigo, em 2023, o dólar terminou o ano com uma desvalorização de mais de 8,08% frente à moeda brasileira. Se observamos o cenário de uma distância maior, porém, veremos que em 10 anos, entre dezembro de 2013 e dezembro de 2023, a valorização acumulada do dólar foi de 107,26% (indo de R$2,34 para R$4,85).

Dito isso, investir no exterior pode ser uma alternativa interessante para proteger o poder de compra de seu patrimônio. Contudo, é preciso que também tenha o preparo mental necessário para acompanhar seus rendimentos oscilando. Na dúvida, vale considerar o que apontamos na dica anterior.

Custos adicionais

Além da taxa de câmbio, ao aplicar no exterior, o investidor também deve atentar para os custos adicionais que podem incidir sobre seus rendimentos e, até mesmo, reduzir o valor que você tem reservado para investir.

A depender da modalidade de investimento, esses valores podem incluir custos associados às remessas, taxas de câmbio, IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros), entre outros. Caso o investimento seja feito de forma direta, ou seja, por meio de uma corretora internacional, é preciso atentar também a taxa de corretagem, que será cobrada na moeda local.

Declaração do imposto de renda

Por fim, além da taxa cambial e de custos adicionais, os rendimentos no exterior também estão sujeitos à cobrança de Imposto de Renda (IR)

Desde janeiro de 2024, os investimentos no exterior passaram a contar com um novo regime tributário. O IR agora incide com alíquota fixa de 15%, sem nenhuma base de dedução — o que significa que todas aplicações são descontadas igualmente. Esse valor deve ser declarado separado dos demais ganhos, via Declaração de Ajuste Anual (DAA)

Estão isentos de desconto os ganhos obtidos com variação cambial em depósitos em conta corrente cartão de crédito ou débito no exterior, desde que não sejam remunerados e permaneçam mantidos em instituição financeira estrangeira. O mesmo vale para moeda em espécie, até o limite de US$5 mil anuais. 

Ganhos obtidos com variações cambiais de moeda estrangeira mantidas em alienação e que passem desse limite são taxados com os mesmos 15%.

Regulamentações e restrições

Cada mercado conta com regulamentações próprias de funcionamento, além de normas específicas para investimentos estrangeiros. É sempre importante estudar todas essas regulamentações e possíveis impeditivos, para ter certeza de que você concorda e está cumprindo com a legislação local. 

Da mesma forma, estude também o funcionamento geral do mercado em que pretende aplicar, suas tendências econômicas e políticas. Quanto mais você compreender as singularidades locais, menores as chances de ser pego de surpresa, e maior a possibilidade de identificar boas oportunidades de investimento.

Momento certo para investir

Acompanhar a cotação e as previsões cambiais é, obviamente, imprescindível para quem investe no exterior. Afinal, aqui já não faz falta ressaltar a importância das flutuações de câmbio para esse tipo de aplicação.

Contudo, caso você só não tenha começado a investir no exterior ainda por estar esperando o momento mais oportuno para isso, lamentamos dizer que isso não existe. Tentar fazer market timing — prática de antecipar tendências para definir um momento de baixa no dólar ou no euro para investir no exterior — não é recomendável. Esse tipo de previsão é, como já assinalamos mais de uma vez, muito complicada, dada a sensibilidade do mercado cambial.

Uma ideia mais adequada e prudente é demarcar um limite, e investir quando o câmbio chegar próximo a esse patamar determinado. Após isso, indiferentemente do que estiver ocorrendo, é importante continuar com aportes periódicos.

Tenha em mente, contudo, tudo aquilo que já explicamos nas dicas anteriores. Não é impossível que você invista em dólar hoje e veja seus rendimentos perderem desempenho com uma eventual valorização do real. Isso é normal e vai acontecer mais de uma vez. No longo prazo, você já sabe, o real historicamente tende a ficar para trás de moedas fortes utilizadas em economias desenvolvidas.

Como enviar dinheiro para o exterior?

As duas principais maneiras de enviar recursos para fora do Brasil são: por meio da plataforma da corretora, ou por plataformas terceirizadas. Abaixo explicamos cada uma delas:

Plataforma da corretora

Quando se fala de enviar recursos para a plataforma de sua corretora internacional, o primeiro passo é, claro, possuir uma conta na corretora internacional.

Uma vez feita abertura de sua conta internacional, basta que você faça um TED (há até mesmo corretoras que aceitam PIX), normalmente em reais, para essa conta na sua corretora.

Na sequência, você poderá converter esses valores de reais para dólares (em algumas corretoras, há a possibilidade de conversão para outras moedas, como euros) na própria plataforma.

Por fim, seu dinheiro estará em moeda internacional e bastará fazer seu investimento!

Plataformas terceirizadas

Como explicado, muitas corretoras internacionais permitem que você faça o envio de seu dinheiro para o exterior e realize a conversão de reais para dólares.

Mas você também possui a possibilidade de utilizar uma outra plataforma além da corretora para enviar seu dinheiro para fora do país.

Os principais motivos para isso costumam ser vantagens de preço para remessa do dinheiro ou praticidade, já que há corretoras em que o envio de dinheiro não é simples.

Uma vez que você opte por utilizar uma plataforma terceirizada para sua remessa internacional e tenha sua conta criada, o processo é constituído dos seguintes passos:

  1. Selecionar a quantidade de dólares a serem enviados;
  1. Escolher o destino, isto é, a conta para que você vai investir;
  1. Fazer um TED — em alguns casos, as plataformas já aceitam PIX — para a plataforma de envio.

Após este processo, bastará alguns dias para que seu dinheiro chegue na sua conta da corretora internacional.

Quais os documentos necessários para investir no exterior?

Apesar de existir uma variedade de formas para realizar seu investimento internacional, em geral, o processo é tão simples quanto abrir conta em uma corretora de investimentos.

Os documentos (e outros dados) comumente utilizados são:

  • RG ou CNH;
  • CPF;
  • Comprovante de residência;
  • Conta bancária em seu nome;
  • Número de telefone;
  • Endereço de e-mail;

Não existe uma regra geral dos documentos utilizados para investir no exterior. Mas, para a grande maioria dos casos, os dados acima são suficientes.

Quanto é preciso para investir no exterior?

No tópico acima, em que você viu os documentos necessários para investir no exterior, desmistificamos a lenda de que são necessários muitos documentos e uma enorme burocracia para investir fora do Brasil.

Agora, vamos fazer o mesmo com relação a quanto dinheiro você precisa para realizar um investimento internacional. Para investir no exterior, quase não existe um bloqueio financeiro atualmente — algo muito diferente do que ocorria no passado, quando era necessário ter muito dinheiro para investir.

Hoje, é comum encontrar BDRs (Brazilian Depositary Receipts) até mesmo por preços inferiores a R$30,00. Logo, você pode começar a investir no exterior com praticamente qualquer quantia de dinheiro que possuir.

Vale a pena investir no exterior?

Foi o tempo onde as aplicações no exterior eram destinadas a investidores milionários ou para quem morava fora do país. Hoje, é possível acessar os maiores mercados financeiros do mundo desde o Brasil, com aplicações partindo de não mais do que R$500,00. 

Com um mercado global cada vez mais aberto, com regulamentações mais brandas, e ampliação das possibilidades e meios de alocar parte da sua carteira no estrangeiro, seria mesmo complicado não indicar esse tipo de investimento. 

Muito além da praticidade, as vantagens de investir no exterior também não são nada insignificantes. Já falamos delas ao longo do artigo, então vamos retomar só as duas mais importantes para ilustrar essa sentença.

Primeiro, investir no exterior é uma das formas mais fáceis de diversificar seu portfólio. Só de aplicar em outro mercado, automaticamente, você blinda parte de seu patrimônio do Risco Brasil. A diversificação, contudo, não se limita à geografia. 

Investidores domésticos só possuem acesso a 1% das empresas listadas no mundo. Já quem aplica em um mercado maior como o norte-americano, por exemplo, pode investir em quase metade das ações negociadas em todo o mundo. Entre elas, estão as grandes marcas globais que todos conhecem (Coca-Cola, Disney, Nike, Amazon, e assim por diante), mas não só isso. 

            Esses mercados também possibilitam a participação nos lucros de segmentos pouco presentes ou mesmo ausentes na B3. Uma prova disso, é simplesmente o setor da tecnologia, um dos mais promissores e ricos do mundo, que não é bem representado aqui.

Além do acesso a um número maior de ativos, investir em mercados consolidados como o dos Estados Unidos, Europa, Japão, Austrália, entre outros, também permite acesso a rendimentos em uma moeda mais forte que o real. Assim, além de lucrar com a valorização do ativo estrangeiro, é possível também ganhar com as variações cambiais.

Mais que os lucros, essa exposição à moeda estrangeira também pode servir como uma maneira de blindar o patrimônio da corrosão inflacionária.  Afinal, moedas e economias fortes costumam manter o valor mesmo diante de cenários de instabilidade econômica. 

Quando falamos nos EUA, essa estabilidade está expressa tanto na valorização do dólar na última década, como no desempenho geral de suas companhias. Aqui basta dizer que os rendimentos do S&P 500, índice que mede a performance média das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, cresceu mais de 160% na última década — com pandemia, e tudo. Na prática, isso tudo significa que a perda do poder de compra da moeda norte-americana ocorre de maneira bem menos significativa do que ocorre com o real. 

Exaltados os benefícios do investimento internacional, é preciso dizer, porém, que a compreensão se esse tipo de aplicação vale ou não a pena cabe inteiramente ao investidor. Afinal a complexidade e os riscos envolvidos, não são para todo mundo. Para investir de forma inteligente é preciso estudar o mercado internacional e principalmente estar disposto a assumir alguns riscos, entre eles um bastante imprevisível: o cambial. 

Passo a passo sobre como investir no exterior

Pronto! Agora você já sabe os fundamentos dos investimentos internacionais. Mas queremos que esse artigo seja realmente transformador.

Por isso, a última etapa que você cumprirá agora será justamente aprender o passo a passo para investir no exterior.

1. Faça um planejamento

A primeira etapa de um investimento internacional de sucesso é fundamental, mas também não é nada extremamente complexo.

O que você precisa fazer em primeiro lugar é nada mais do que um planejamento financeiro.

  • Com qual frequência você vai fazer aportes?
  • Por quanto tempo seu dinheiro estará rendendo?
  • Quais são seus objetivos ao investir no exterior? Fazer um MBA internacional? Viajar para os Estados Unidos? Cada detalhe aqui importa!

Essas são algumas das principais perguntas que precisam ser feitas, antes de dar o próximo passo.

Se, por exemplo, seu objetivo ao investir no exterior é viajar para a Europa e quer que a viagem aconteça em 2 anos — note que o destino é importante, mas o prazo também —, você precisa:

  • Programar quanto dinheiro precisará ter ao fim do período;
  • Quantos aportes você precisará fazer (e de quanto dinheiro necessitará) ao longo do tempo;
  • Quais classes de ativos você escolherá (se você vai viajar em um prazo curto como 2 anos, talvez não seja a melhor opção investir tudo em ações, que oscilam muito).

Mas e se seu objetivo for investir seu patrimônio no exterior sem prazo definido, com a finalidade de se proteger do Risco Brasil? É claro que seu planejamento agora será outro.

Como você pretende se proteger do Risco Brasil, seu horizonte de investimentos provavelmente possuirá um prazo maior e, além disso, você poderá ter mais liberdade para escolher diferentes classes de ativos e países para investir.

Deu para entender o raciocínio? 

2. Abra uma conta em uma corretora internacional

Agora que você já tem seu planejamento completo, o próximo passo será realmente partir para a parte mais operacional: para iniciar, é fundamental abrir conta em uma corretora.

Como vimos anteriormente, não é necessário que a conta seja em uma corretora internacional, já que é possível comprar ativos globais por meio de plataformas brasileiras, seja através de fundos ativos, BDRs ou ETFs.

Mas vamos focar aqui no exemplo de uma corretora internacional, já que se trata de uma forma de fazer seu investimento diretamente no exterior.

O processo costuma ser simples e interativo: a instituição irá solicitar alguns documentos e dados pessoais e, em geral, pouco tempo após o envio, seu cadastro estará realizado.

O único adendo é conferir se essa instituição selecionada por você possui credibilidade, já que isso é fundamental.

3. Escolha um tipo de investimento

Ao chegar neste passo você já planejou como pretende investir no exterior e abriu conta em uma corretora de sua preferência — seja nacional ou internacional.

A próxima etapa será escolher de fato qual será o tipo de investimento que você escolherá.

E a grande realidade aqui é que esse passo deve ser relativamente simples, uma vez que você tenha seu planejamento feito. Claro, não é fácil escolher os bons ativos e isso exige estudo e preparação consideráveis.

Nesse sentido, hoje em dia é possível escolher profissionais de confiança para fazer a seleção específica de investimentos para você, ficando ao seu cargo apenas executar as operações de compra ou venda.

4. Envie o dinheiro para sua conta no exterior

Depois de tudo o que você viu — planejamento, abertura de conta em uma corretora e escolha dos melhores investimentos — basta enviar recursos para sua conta no exterior, para então aplicar de fato o seu patrimônio.

Simples assim. Agora você é um investidor global!

Aprenda a investir no exterior com a Finclass

Como você pode ver, investir no exterior é uma forma bastante inteligente de  diversificar sua carteira geograficamente, ter acesso às maiores empresas do mundo e de quebra garantir uma fonte de renda passiva em moedas mais fortes do que o real.

Se você quer continuar aprendendo sobre o assunto, temos uma dica imbatível: já deu uma olhada na Finclass sobre Investimento Internacional?

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Hugo Gonçalves
Hugo Gonçalveshttps://finclass.com/
Hugo é economista e copywriter no Grupo PRIMO. Trabalha com finanças há mais de 7 anos.
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